Inovação e Gestão Eficiente da saúde: cuidado especializado
Por Paulo Eduardo M. Rodrigues da Silva
Em um país com as dimensões do Brasil, enfrentar os desafios históricos da desigualdade no acesso à saúde especializada exige mais do que boa vontade, exige gestão aliada à inovação e novas tecnologias, sendo possível transformar a realidade do sistema público de saúde ao integrar inteligência artificial, saúde digital e uma estratégia de cuidado centrada no paciente.
A marca de mais de 5.500 teleconsultas realizadas em 2024, incluindo triagens complexas e acompanhamento clínico remoto, revela um novo modelo operacional. Trata-se de uma gestão orientada por dados, por resultados e pela resolutividade, que rompe barreiras geográficas e otimiza recursos sem perder qualidade. Esse modelo demonstra que, quando a inovação é usada com propósito, ela se traduz em acesso, eficiência e impacto real na vida das pessoas.
O sucesso dos programas TeleUTI Obstétrica e TeleUTI Conectada evidencia o poder transformador da tecnologia quando aplicada com planejamento à assistência em saúde. Mais do que soluções digitais, essas iniciativas criadas em parceria com o Ministério da Saúde, exigem visão estratégica, gestão integrada e articulação entre instituições.
O TeleUTI Obstétrica, por exemplo, realizou mais de 7.295 teleinterconsultas em 28 hospitais, promovendo avanços significativos nos cuidados maternos e reduzindo a mortalidade materna em 39% — bem acima da média nacional de 5% no mesmo período. O projeto, desenvolvido com a tecnologia Iconf do InCor, demonstrou como a saúde digital pode qualificar diretamente o atendimento.
Já o TeleUTI Conectada interligou UTIs de oito estados a um sistema de monitoramento remoto em tempo real, com integração de equipamentos à beira leito em um painel de controle digital. Com mais de 1.400 teleinterconsultas e 740 profissionais envolvidos, o projeto contribuiu para uma redução de 20% na mortalidade entre pacientes críticos. Esses resultados reforçam a importância de políticas públicas que incorporem a inovação tecnológica como eixo central da melhoria dos serviços de saúde no país.
A gestão do cuidado especializado, quando impulsionada por soluções digitais, permite algo que parecia impossível há poucos anos: levar saúde especializada de qualidade a qualquer lugar do Brasil, com segurança, agilidade e personalização. Inovar na saúde não é apenas adotar novas tecnologias, mas principalmente repensar processos, integrar competências e garantir que cada ação esteja orientada para o resultado final mais importante: o cuidado com o paciente.
Nesse contexto, o futuro da saúde no Brasil depende, não apenas dos recursos tradicionais de infraestrutura, ciência e tecnologia, mas, sobretudo, da iniciativa de gestores públicos e das instituições de referência em adotar modelos escaláveis e centrados em valor. A verdadeira inovação nasce da necessidade, mas só se sustenta com planejamento e boa gestão.
*Paulo Eduardo M. Rodrigues da Silva é Diretor Presidente da Fundação Zerbini.