Infraestrutura inteligente: gestão, disponibilidade e segurança
Vivemos uma etapa em que a infraestrutura deixou de ser simples para se tornar o sistema nervoso de toda a cadeia de cuidado. Equipamentos clínicos, monitores, bombas de infusão, imagens por tomografia, wearables e sensores ambientais, todos conectados, são elementos centrais do fluxo assistencial. O aumento de dispositivos conectados transforma cada leito em uma pequena fábrica de dados, é estimado que a base global de dispositivos IoT (internet das coisas) ultrapassou 16 bilhões em 2023 e vinha projetada para quase 19 bilhões em 2024, segundo o relatório “State of IoT (Summer 2024)”, da IoT Analytics, empresa de pesquisa de mercado e inteligência empresarial.
Esse novo cenário impõe três obrigações ao gestor da TI hospitalar: garantir disponibilidade contínua, gerir a complexidade de dezenas, às vezes centenas, de fabricantes e protocolos, e proteger uma superfície de ataque que hoje já é estratégica para a continuidade do cuidado:
Disponibilidade na saúde não é métrica de conforto, é segurança. Quando um sistema de registros fica indisponível, processos clínicos param, exames são adiados e em casos extremos, decisões críticas têm que ser tomadas sem o apoio de dados. Operações simples como segregação de tráfego clínico, roteamento redundante, arquiteturas de alta disponibilidade e planos consolidados de recuperação se tornam questões regulamentares e operacionais.
Gestão é essencial, já que a complexidade de hoje exige que a TI trate cada dispositivo como um ativo crítico, com inventário confiável, rastreabilidade do firmware, gestão de certificados, políticas de atualização e políticas de autenticação para máquinas. Sem automação, equipes técnicas ficam atoladas em tarefas repetitivas e o tempo de exposição aumenta.
Segurança é tão importante quanto, a superfície de ataque cresceu e a ameaça se tornou palpável. Ransomware e ataques que paralisam serviços laboratoriais e diagnósticos mostraram que impactos extrapolam dados e chegam à operação clínica diária, com filas, cirurgias adiadas e risco direto ao paciente.
O valor clínico do IoT existe e exige responsabilidade tecnológica
A integração de dispositivos conectados traz ganhos reais, como monitorização contínua, menos readmissões, telemonitoramento e melhores trajetórias do paciente. Cabe ao Chief Information Officer (CIO) posicionar a infraestrutura como item central de investimento e governança clínica, negociar contratos de compra que imponham requisitos mínimos de segurança e ciclo de vida de firmware, e articular com fornecedores clínicos a exigência de interfaces seguras. Política de compra e governança de fornecedores são tão importantes quanto firewalls.
A infraestrutura inteligente na saúde não é luxo, é uma condição para que tecnologia cumpra seu papel de melhorar resultados clínicos. Sem disponibilidade, governança do ciclo de vida e segurança integrada, as promessas do IoT e das novas aplicações de dados não se concretizam. É responsabilidade da TI puxar esse processo, articular com a diretoria clínica, e transformar investimentos em infraestrutura em garantias reais de continuidade assistencial e proteção dos pacientes.
Se quisermos que hospitais sejam organizações resilientes e centradas no paciente, precisamos colocar a infraestrutura inteligente no centro da agenda, com métricas, orçamento e autoridade. Sem isso, continuaremos protegendo sistemas enquanto abandonamos processos clínicos à sorte do próximo incidente.
*Edgard Nienkotter é CEO da Hexa IT.