Instituto Serum: como o incêndio poderia ter sido evitado?
Por Felipe Melo
Na última quinta-feira (21), um incêndio ocorreu em um andar do prédio do Instituto Serum, fabricante de vacinas contra Covid-19 na Índia, ocasionando a morte de cinco pessoas. Segundo o CEO da empresa, nem o estoque e nem o laboratório onde são produzidos os imunizantes foram afetados. Ainda não se sabe ao certo o que provocou o fogo, no entanto, é certo que em locais como este deve-se tomar medidas extras de proteção, uma vez que apresentam riscos potencializados.
Edifícios como o do caso, trazem todos ou quase todos os agravantes para o início de um incêndio, como presença de materiais combustíveis, seja em mobiliário, equipamentos e/ou o no próprio manuseio de matéria prima; tipo de construção e o seu revestimento, comumente de algum tipo plástico devido à exigências sanitárias e limpeza (muito comum nas indústrias farmacêuticas); presença e utilização de líquidos igníferos, provenientes de matérias primas utilizadas nos processos ou dos produtos utilizados para a limpeza, , etc. Resultando, assim, em locais com alta carga de incêndio e com alta taxa de liberação de calor.
Os motivos que ocasionaram o acidente no prédio do laboratório ainda são desconhecidos, no entanto, a combinação dos materiais combustíveis de revestimentos e manuseio com uma fonte de calor capaz de igniza-los, são fatores chave para se iniciar um incêndio. Listo alguns pontos devem ser observados e seguidos para se evitar que um incêndio se inicie.
- Reduzir a quantidade de materiais combustíveis na ocupação e no manuseio é sempre uma ótima opção, porém muito difícil de ser aplicada, visto que são muitas vezes inerentes ao processo. O que é possível porém, importância é o cuidado com o manuseio e armazenamento de substâncias perigosas, como líquidos ingníferos e gases inflamáveis, e cuidados com as instalações. Manutenção sempre é importante, seja para utilidades, equipamentos em geral e sistemas de proteção contra incêndio.
- O fogo precisa da combinação, oxigênio, material combustível e energia de ignição. Esta última pode vir de várias formas, uma instalação elétrica mal feita ou sem manutenção, como um curto circuito por exemplo, ou até mesmo um reparo em um equipamento ou estrutura que ocasione em o que chamamos de trabalho a quente, ou seja, é capaz de produzir calor e/ou faísca No caso de trabalho à quente é importante sempre que possível, evita-lo, porém nem sempre é possível, e neste caso deve-se seguir procedimentos rigorosos de isolamento de combustíveis, acompanhamento do processo e checagem mesmo após o término para assegurar que não houve geração de faíscas que pudessem ignizar algum material combustível.
- Implantar boas medidas de proteção contra incêndio, sejam elas medidas passivas ou ativas. Gosto de dizer que todas as medidas são importantes e se complementam. Uma delas, a passiva, impede que o incêndio cresça, avance para outras áreas além da origem, permita que os ocupantes deixem a ocupação, as medidas ativas, atuam no controle e combate do incêndio, permitindo a contenção do fogo, tempo para evacuação e redução dos danos materiais e ambientais. Gosto de reforçar que um sistema de sprinkler é uma excelente opção no que diz respeito à proteção ativa, pois é comprovadamente o método de combate mais eficaz que se conhece, atua automaticamente, controlando as chamas no início do incêndio.
É fato que a ocorrência de incêndios se dá por diversos fatores e na maioria das vezes são difíceis de prever. Entretanto, medidas simples como seguir corretamente as orientações dos órgãos competentes e investir em instalação e manutenção dos equipamentos, aliada a projetos que garantem a segurança em reformas e manutenção podem preservar patrimônios e, principalmente, vidas.
*Felipe Melo é engenheiro eletricista, especialista em proteção contra incêndio e sistemas de sprinklers e presidente da Associação Brasileira de Sprinklers (ABSpk).