Como os idosos e seus cuidadores veem a dor e a depressão

Por Rubens de Fraga Júnior

Adultos, especialmente idosos, podem estar com dor ou deprimidos, mas não são capazes de transmitir detalhes de seus sintomas e qualidade de vida aos seus médicos por vários motivos, incluindo comprometimento cognitivo. Um novo estudo dos pesquisadores do Regenstrief Institute e da Indiana University School of Medicine investiga se pacientes idosos e seus representantes — normalmente cônjuges, filhos ou outros cuidadores familiares — concordam com o que dizem aos médicos sobre os sintomas e a qualidade de vida de um paciente, informações críticas para o atendimento clínico.

Os pesquisadores descobriram que os pacientes e os cuidadores concordaram com a gravidade dos sintomas de dor, depressão e ansiedade, bem como o estado funcional entre 50 e 60 por cento do tempo, com maior probabilidade de concordância nos sintomas físicos (dor e funcionalidade), do que a concordância sobre os sintomas psicológicos (depressão e ansiedade). Os cuidadores que estavam sob muito estresse eram mais propensos a relatar em excesso os sintomas de seus pacientes.

“Ao contrário da pressão arterial e do açúcar no sangue, sintomas como dor, depressão ou ansiedade não podem ser medidos objetivamente”, disse Kurt Kroenke, membro do corpo docente do Instituto Regenstrief e da Faculdade de Medicina da IU, que liderou o estudo. “Nosso grupo está muito interessado em sintomas — sinais que você não pode medir com um raio-X ou um teste de laboratório. A única maneira de determinar a gravidade é com escalas validadas e, se os pacientes não puderem relatar por si mesmos, o relatório do cuidador é uma importante ferramenta disponível para o clínico que trata o paciente”.

Mesmo quando um paciente é capaz de autorrelato, observações complementares de um cuidador fornecendo uma perspectiva de confirmação ou discordância podem informar as decisões de tratamento, de acordo com o dr. Kroenke, médico de cuidados primários.

“Semelhante ao que ocorreu durante a pandemia, quando usamos testes rápidos de Covid em vez dos testes PCR mais precisos para tomar decisões sobre viagens ou participação em eventos ou outros problemas, porque os testes rápidos eram os melhores que tínhamos à mão, quando os pacientes não podem completar uma escala de sintomas, os relatórios de cuidadores são as melhores fontes disponíveis e fornecem informações valiosas”, disse o dr. Kroenke.

O dr. Kroenke, um pioneiro no campo da sintomatologia, desenvolveu várias medidas de resultados relatadas pelo paciente que foram traduzidas para 80 idiomas, incluindo a escala de depressão PHQ-9, escala de ansiedade GAD-7, escala de dor PEG e triagem de suicídio P4. Neste estudo, a concordância paciente-cuidador foi avaliada usando quatro escalas comumente usadas, o PHQ-9, GAD-7, o PEG e a escala multidimensional de sintomas e comprometimento funcional SymTrak. O SymTrak também foi desenvolvido e testado por pesquisadores da Regenstrief e da IU School of Medicine.

A pesquisa foi publicada no Journal of Patient-Reported Outcomes.


*Rubens de Fraga Júnior é professor de Gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR) e é médico especialista em Geriatria e Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

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