Internações por ICSAP provocam prejuízos bilionários na saúde
Por Patrick Guilger, Reginalda Batista e Rossana Lambertucci
As Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP) são aquelas internações hospitalares que, em tese, poderiam ser evitadas se o paciente tivesse acompanhamento adequado na Atenção Primária à Saúde (APS). Elas são numerosas e ocorrem principalmente em quadros crônicos de diabetes, asma, pneumonia e hipertensão arterial, que não deveriam chegar ao ambiente hospitalar se recebessem cuidado médico regular e fossem controladas com medidas preventivas.
De acordo com dados da plataforma DRG Brasil, 27% das internações no Brasil em 2023 foram classificadas como ICSAP. Trata-se de um problema enorme, afinal, estamos falando de milhões de internações evitáveis que colocam pessoas em risco desnecessário e custam bilhões para um sistema de saúde cada vez mais pressionado economicamente. Além disso, ocupam leitos que poderiam ser utilizados por pessoas que realmente necessitam de cuidados de média e alta complexidade e estão aguardando uma vaga na fila, e ainda sobrecarregam equipes de saúde em hospitais já saturadas.
Estudo da Planisa foi realizado baseado nas informações da DRG Brasil em conjunto com a Plataforma KPIH – desenvolvida pela Planisa -, que calcula o custo da jornada do atendimento de cada paciente, e focado nas duas doenças mais prevalentes – a N390 (infecção do trato urinário) e a J159 – (pneumonia não especificada). Foram analisados pouco mais de 14 mil atendimentos para essas duas patologias, em 27 hospitais no ano de 2023, e os resultados foram alarmantes: R$ 53 milhões em desperdícios. Se fizermos uma extrapolação para os mais de seis mil hospitais do país e considerarmos diversas outras doenças crônicas e frequentes, o total será gigantesco. É impossível ter um sistema sustentável com esse nível de desperdício.
Se buscarmos, porém, um ângulo positivo para analisar a questão, podemos concluir que temos um potencial enorme de economia nos custos atuais da saúde, que não param de subir e estão se tornando insuportáveis para o setor. Temos o conhecimento e os meios para construir soluções e operar uma transformação nessa área. Mas, para isso, é necessário fazer desse objetivo uma prioridade e investir os recursos necessários, além de promover uma cultura de decisões baseada em dados na liderança das instituições, principalmente públicas.
É fundamental, portanto, construir uma estrutura de rede bem articulada para promover a integração entre os diversos prestadores, o fortalecimento de parcerias e o estabelecimento de sinergias dentro do ecossistema para melhorar a coordenação do cuidado, reduzir duplicações e garantir utilização mais eficiente dos recursos. Dessa maneira, a sustentabilidade será uma realidade tangível sem prejuízo ao estímulo à qualidade dos serviços. E sempre com o paciente no centro da assistência, afinal, combater o desperdício com ICSAP é crucial para construir um sistema de saúde melhor e mais abrangente para todos os brasileiros.
*Patrick Guilger é especialista em dados da Planisa. Reginalda Aparecida Batista é especialista em gestão da saúde da Planisa. Rossana Lambertucci é consultora assistencial da Planisa.