IA na saúde tem potencial infinito, mas exige equilíbrio e preparação

Por Valter Lima

A inteligência artificial (IA) já é uma realidade incontornável na saúde. Da triagem de pacientes ao suporte ao diagnóstico, passando pela gestão hospitalar e pela análise preditiva de dados clínicos, os algoritmos estão redesenhando a maneira como o sistema de saúde opera. O potencial é imenso – reduzir custos, otimizar recursos e ampliar o acesso à medicina de qualidade. Mas esse entusiasmo precisa caminhar lado a lado com prudência, governança e responsabilidade.

O Brasil vive agora um momento decisivo nesse equilíbrio. O Congresso Nacional discute o projeto de lei que criará o marco regulatório da inteligência artificial no país. O texto, em fase final de elaboração, adota uma lógica de regulação baseada em risco, segundo a qual as exigências legais devem ser proporcionais à gravidade e ao impacto de cada aplicação. No caso da saúde, isso significa distinguir, por exemplo, um algoritmo que ajuda na priorização de exames de outro que atua diretamente em procedimentos invasivos. O modelo proposto prevê uma governança coordenada pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados, com papéis definidos para Anvisa e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) – buscando evitar sobreposição de competências e, ao mesmo tempo, incentivar a inovação responsável.

Essa discussão chega em boa hora. Países que avançaram primeiro nesse campo, como os europeus, vêm revisando suas normas após perceberem que o excesso de rigidez pode travar a inovação e afastar investimentos. A lição é que regular é necessário, mas regular mal pode ser pior do que não regular. O desafio brasileiro é aprender com essas experiências e construir um modelo próprio – capaz de proteger o cidadão, garantir segurança jurídica e fortalecer a indústria nacional de tecnologia.

Eu acredito que o verdadeiro ponto de equilíbrio está justamente entre segurança e inovação. A IA é uma ferramenta poderosa, mas não neutra. Requer responsabilidade ética, transparência nos critérios de decisão e proteção rigorosa dos dados pessoais. Ao mesmo tempo, é essencial que o país mantenha liberdade para criar, testar e adaptar soluções à sua realidade. Sem uma base de dados estruturada, interoperável e protegida, qualquer avanço será frágil. E sem liberdade para inovar, não vai produzir resultados.

Há, ainda, a questão cultural. A adoção da IA na saúde não depende apenas de tecnologia, mas de confiança. Profissionais de saúde ainda demonstram resistência – em parte pela falta de familiaridade, em parte pelo receio de que os sistemas automatizados substituam o julgamento clínico. Esse é um equívoco que precisa ser superado. A inteligência artificial não substitui o médico: ela o potencializa. Ao reduzir tarefas burocráticas e apoiar decisões, permite que o foco volte a ser o que importa: o cuidado humano.

A regulação em andamento pode ajudar a consolidar essa confiança. Um marco legal bem calibrado tem o poder de oferecer previsibilidade a investidores, pesquisadores e hospitais, e de garantir que a inovação avance dentro de parâmetros seguros. E essa regulação de ser viva e ágil, capaz de acompanhar a velocidade da tecnologia e de se ajustar às transformações do setor, sem travar quem já está inovando.

A inteligência artificial representa, portanto, um divisor de águas na forma de cuidar, planejar e gerir a saúde. Seu potencial de transformar o sistema público é enorme, mas sua implementação exige governança proporcional ao seu poder. A combinação entre regulação inteligente, confiança profissional e inovação ética será o caminho para que a IA cumpra seu papel: humanizar o futuro da saúde.


*Valter Lima é CEO da CTC.

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