IA como aliada para melhorar a saúde mental dos colaboradores
Por Sávio Arruda
Afastamentos por transtornos mentais custam milhões de reais por ano às empresas brasileiras e à Previdência Social. Somente em 2023, foram concedidos mais de 288 mil benefícios por essa causa, um aumento de 38% em relação ao ano anterior. Essa crise silenciosa impacta a produtividade, o clima organizacional e a vida dos trabalhadores. Diante desse cenário, a Lei 14.831/24 surge como um marco, criando o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental. A certificação estabelece critérios rigorosos para promover o bem-estar psicológico dos colaboradores, incentivando a criação de políticas e ações efetivas.
A certificação não só reconhece os esforços das empresas, mas também pode resultar em ganhos de produtividade e redução de custos associados aos afastamentos. Para o governo, isso significa menor pressão sobre os sistemas de saúde e previdência. Para as empresas, representa um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.
Paralelamente, a Inteligência Artificial (IA) emerge como uma ferramenta crucial para auxiliar as empresas a cumprirem os requisitos da nova lei e a construírem um ambiente de trabalho mais saudável. A IA permite monitorar o bem-estar dos funcionários em tempo real, por meio da análise de dados de aplicativos, wearables e até mesmo interações online. Algoritmos inteligentes podem identificar sinais precoces de estresse, ansiedade ou depressão, possibilitando intervenções preventivas.
Chatbots e aplicativos de terapia virtual, alimentados por IA, oferecem suporte emocional imediato e personalizado aos colaboradores, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Essa acessibilidade é crucial para aqueles que hesitam em buscar ajuda tradicional. A tecnologia pode ser utilizada para desenvolver programas de treinamento personalizados, que abordam temas como gestão do estresse, mindfulness e resiliência. A IA também pode criar campanhas de conscientização sobre saúde mental, adaptadas às necessidades específicas de cada equipe.
A implementação da IA na gestão da saúde mental não está isenta de desafios. Preocupações com a privacidade dos dados e a desconfiança em relação ao suporte virtual são comuns. Para superá-los, a transparência é fundamental. As empresas devem comunicar claramente como a tecnologia será utilizada, garantindo a confidencialidade das informações e o controle dos funcionários sobre seus dados.
A IA pode ir além do tratamento e prevenção, contribuindo para a criação de um ambiente de trabalho mais inclusivo e saudável. Algoritmos podem identificar necessidades específicas de diferentes grupos de colaboradores, como pessoas com deficiência ou em situação de vulnerabilidade, e auxiliar na criação de políticas de inclusão e bem-estar.
A certificação não é apenas um reconhecimento, mas um processo de melhoria contínua que enfatiza o monitoramento e a evolução dos colaboradores, conforme previsto em lei. A IA pode agilizar significativamente a obtenção do certificado, automatizando a coleta e análise de dados, facilitando a avaliação da conformidade e gerando relatórios em tempo real. Isso permite às empresas um acompanhamento mais preciso e ágil do bem-estar de seus funcionários, possibilitando intervenções rápidas e eficazes quando necessário.
O investimento em saúde mental é tanto uma responsabilidade social quanto uma decisão economicamente inteligente. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cada US$ 1 investido no tratamento para depressão e ansiedade gera um retorno de US$ 4. Além disso, a certificação em saúde mental pode ser um diferencial na atração e retenção de talentos. A IA facilita a medição de indicadores cruciais, como redução de afastamentos, aumento do engajamento e produtividade, permitindo ajustes contínuos. Esta abordagem não apenas melhora o bem-estar dos colaboradores, mas também fortalece a posição da empresa no mercado de trabalho competitivo.
Desse modo, o futuro da saúde mental no ambiente de trabalho no Brasil é promissor. A crescente conscientização sobre a importância do tema, aliada ao avanço da IA, abre um leque de possibilidades para construir empresas mais humanas, saudáveis e produtivas.
*Sávio Arruda é cofundador e CEO da Serena, startup que utiliza Inteligência Artificial para oferecer suporte emocional.