Por que a Inteligência Artificial deve ser uma questão de saúde?
Por Igor Couto
Você sabia que o burnout é uma epidemia entre os médicos e profissionais de saúde? E que mais de 70% dos dados da área não são estruturados?
Um levantamento interno do Hospital Sírio-Libanês identificou que os profissionais de saúde entendem que a burocracia é um dos principais entraves na agilidade e na qualidade do atendimento. Esse dado é reforçado por estudo publicado no Annals of Internal Medicine, que demonstrou que para cada uma hora dedicada à assistência do paciente, duas são destinadas à entrada de dados nos sistemas, o que acaba por diminuir o tempo de atenção ao relacionamento com o enfermo e seus familiares.
Como resultado, além da perda de qualidade nos atendimentos, a elevada burocracia e documentação afeta a qualidade de vida desses profissionais: 40% das causas de burnout estão relacionadas às tarefas ligadas ao prontuário eletrônico (JAMA Network). Esse problema “invisível” afeta diretamente o nosso cuidado com a saúde, já que os médicos e enfermeiros gastam 1/3 (às vezes até mais) do seu precioso tempo com documentação e burocracia.
Como consequência, mais de 50% dos profissionais da saúde apresentaram quadros de burnout. Essas e inúmeras outras ineficiências sistêmicas impedem uma maior personalização do cuidado e tem uma relação direta com uma enorme proporção de mortes evitáveis, afetando diretamente a nossa experiência de saúde. Com esses e tantos desafios, como podemos temer a Inteligência Artificial? A liderança dessa revolução deve ser encabeçada pelos próprios profissionais da saúde. A tecnologia tem o poder de transformar o cuidado com os pacientes, mas é fundamental que exista equilíbrio com valores humanos e da profissão, que garantam a implementação responsável da tecnologia e de acordo com princípios éticos.
A Inteligência Artificial não vai nos substituir, vai nos amplificar. E ao contrário do que muitos pensam, será uma grande aliada no cuidado de pacientes. Softwares que simulam habilidades cognitivas do cérebro humano conseguem interpretar dados, fazer relações e responder a comandos com agilidade e eficiência. Outras soluções de inteligência artificial permitem monitorar os sinais vitais do paciente de maneira contínua, coletando dados e fazendo análises mais completas. Esse monitoramento possibilita atuar melhor na prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças.
Mas é preciso nos qualificarmos para trabalhar em conjunto com essa tecnologia e nos adaptarmos às grandes mudanças. É preciso abraçá-la como uma nova ferramenta de raciocínio e execução, para aprimorar, e não substituir as habilidades humanas. Essa mesma lógica se aplica, com mais ou menos intensidade, em praticamente todas as nossas indústrias. Como podemos direcionar a IA para nossos maiores desafios e liderar uma segunda “revolução cognitiva” dos humanos?
A medicina do futuro estará cada vez mais amparada no bom uso da tecnologia. A inteligência artificial na saúde é uma tendência que veio para ficar; mas é preciso saber incorporá-la de forma ética para aproveitar tudo de bom que ela tem a oferecer.
*Igor Couto é CEO e diretor de Tecnologia da 1STi.