Inteligência Artificial na Ortopedia: uma revolução irreversível
Por Andre Wajnsztejn
O uso da inteligência artificial (IA) como uma ferramenta de apoio na prática médica não é algo recente. Esse tipo de alta tecnologia vem conquistando enorme espaço quando falamos sobre diagnóstico, tratamento e reabilitação de pacientes. No entanto, hoje, observamos um salto na sua contribuição dentro da rotina dos hospitais, sendo cada vez mais imprescindível para análise das imagens, em especial, assim como na realização de cirurgias. Esta última camada de IA é claramente uma revolução tecnológica frente a todo o resto que tínhamos antes, algo generativo, uma mudança completa de capítulo e de paradigma. Por esse motivo, acredito que não há como comparar com o que existia há tempos atrás.
Na área do trauma ortopédico, o uso da IA começou a ganhar mais destaque de maneira significativa nas últimas décadas, por meio dos avanços em algoritmos de aprendizado de máquina e maior disponibilidade de dados médicos digitais.
Não é exagero dizer que tudo mudou do dia para a noite.
Na minha experiência como médico ortopedista, em particular, já estou tendo a oportunidade de usar a IA na área do trauma ortopédico, seja com softwares de análises de imagens, entre eles, as intra-operatórias, em cirurgias compartilhadas, com perguntas para IA sobre conduta e retrospectos dos pacientes. Sem dúvida, a IA é um ponto de não retorno nas áreas científica e médica, uma tendência que veio para ficar por seus benefícios, tanto na análise de dados complexos como no auxílio de tomada de decisões clínicas mais precisas e eficientes, que não substituem o trabalho humano de observação e senso crítico do médico.
Com o uso da IA, haverá mudanças em uma série de paradigmas. A velocidade de tudo será muito maior. Dos estudos, com a disseminação de informações científicas nos congressos, à melhoria do atendimento e do diagnóstico, tudo vai passar pela IA. Quando falamos especificamente sobre a área de imagem, a tendência é de aumento da qualidade e da segurança para o paciente, com uma maior assertividade dos exames. Haverá, ainda, uma melhora na agilidade das respostas, pois a capacidade que um computador tem de analisar padrões de imagens é muito superior à do ser humano.
Na área do trauma ortopédico, sua aplicação na análise de imagens radiológicas, como radiografias, tomografias e ressonâncias magnéticas, ajudam sobremaneira na detecção de fraturas, lesões e doenças ósseas, o que permite uma interpretação mais rápida e precisa. Tudo isso vai impactar diretamente na velocidade do diagnóstico e do tratamento do paciente. Outros benefícios a serem destacados na área de imagem são a assertividade de produção de ciência e de estudos. Acredito que todas as teses serão extremamente impactadas e todo aquele intenso trabalho manual de escrita vai ser muito encurtado.
Nas cirurgias ortopédicas, a IA é usada para planejamento pré-operatório. Durante os procedimentos, já contamos com uma série de softwares com programas integrados aos aparelhos de imagem para simulação das cirurgias, orientação de instrumentação e identificação de estruturas anatômicas, além de sinalizar o melhor posicionamento dos implantes e orientar como fazer alguns procedimentos, melhorando a precisão e segurança das intervenções. Todos esses benefícios vão ajudar sobremaneira todo o processo, inclusive na análise pós-operatória.
Podemos citar como exemplo prático para a potencialização do êxito de uma cirurgia, o uso de sistemas de navegação cirúrgica baseados em IA que ajudam a guiar a colocação de implantes durante uma artroplastia total de quadril. Isso aprimora a precisão do posicionamento do implante, reduzindo o risco de complicações e melhorando os resultados a longo prazo para o paciente.
As tecnologias 3D usadas na produção de próteses customizadas com melhora de imagem são uma realidade e já usamos no nosso dia a dia. Por serem feitas sob medida, as peças ajudam tanto médico quanto paciente, o que permite uma melhor adaptação às características individuais do acidentado e o resultado são implantes mais precisos e extremamente funcionais. É algo que classifico como fantástico para a medicina ortopédica.
Um estudo de 2017, que comparou os dados de 379 pacientes ortopédicos de nove centros cirúrgicos dos Estados Unidos, concluiu que na área da ortopedia, por exemplo, a adoção da inteligência artificial reduziu em um quinto o número de complicações pós-cirúrgicas, se comparado o número de cirurgias realizadas com e sem assistência de robôs. Outra conclusão da pesquisa foi que a tecnologia diminuiu em 21% o tempo de internação de pacientes.
No pós-operatório, podemos destacar diversas melhorias até mesmo para o paciente e seu conforto com o uso da prótese. Nós conseguimos discutir com a IA quais são as melhores maneiras de conduzir o período pós-cirúrgico e o próprio paciente também pode fazer isso, com monitorização remota. É importante destacar que é preciso estar sempre preparado e pronto para receber indagações dos pacientes para contribuir de maneira positiva.
A IA permite análise de dados e também previsão de possíveis complicações, o que ajuda o médico a identificar de forma antecipada problemas potenciais para ajuste do plano de tratamento, com a melhora dos resultados no longo prazo. Indiscutivelmente, a IA é um ponto de não retorno. Quem não está antenado com essa tecnologia sem igual na ortopedia não sabe o que está perdendo.
*Andre Wajnsztejn é médico ortopedista e membro da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico.