25 anos após o Genoma Humano, IA lidera nova revolução médica

Em 2000, o Projeto Genoma Humano divulgava ao mundo o primeiro rascunho do DNA humano. O feito foi considerado uma virada na medicina moderna, abrindo caminho para avanços na biotecnologia, nos testes genéticos e no entendimento de doenças raras. Agora, em 2025, outra revolução vem ganhando protagonismo: a aplicação da Inteligência Artificial (IA) na área da saúde.

De hospitais que usam algoritmos para priorizar atendimentos a ferramentas que interpretam exames em segundos, a IA se tornou uma aliada estratégica de médicos, pesquisadores e gestores de saúde em todo o mundo. E, embora ainda existam desafios éticos e operacionais, os resultados obtidos até agora indicam que o impacto será duradouro — e tão transformador quanto o sequenciamento genético foi no início do século.

IA Clássica vs. IA Generativa: entendendo a diferença na revolução da saúde

É importante distinguir as duas principais vertentes da Inteligência Artificial que estão transformando a medicina. A IA Clássica, presente há mais tempo no setor, usa algoritmos treinados para tarefas específicas, como análise de imagens médicas, detecção de padrões em sinais vitais e previsão de riscos com base em dados estruturados.

Já a IA Generativa, mais recente e impulsionada por grandes modelos de linguagem, consegue criar conteúdo original, interpretar linguagem natural e fornecer explicações detalhadas para questões médicas complexas.

“Enquanto sistemas de IA Clássica como o Laura são especializados em detectar padrões específicos em dados hospitalares, as ferramentas de IA Generativa como ChatGPT podem interpretar sintomas descritos pelo paciente e fornecer explicações médicas acessíveis”, explica Kenneth Corrêa, especialista em inovação e tecnologias emergentes.

Diagnóstico com apoio da IA: agilidade e precisão

Um dos principais ganhos com o uso da IA está na triagem e no diagnóstico médico. Sistemas como o Med-PaLM 2, desenvolvido pelo Google, são treinados com grandes bases de dados clínicos e passaram em testes de proficiência médica nos Estados Unidos. A tecnologia consegue interpretar exames de imagem, sugerir diagnósticos e até gerar relatórios médicos com linguagem técnica e objetiva.

“Essas ferramentas funcionam como uma enciclopédia médica ampliada. Elas acessam milhares de prontuários, cruzam informações com bibliotecas médicas e oferecem ao profissional uma hipótese diagnóstica altamente embasada. Isso dá mais agilidade e segurança ao processo de decisão”, explica Corrêa, autor do livro “Organizações Cognitivas – Alavancando o Poder da IA Generativa e dos Agentes Inteligentes”, que explora o impacto da IA nas organizações.

Um estudo publicado pela JAMA Internal Medicine, em 2023, já mostrava a força desse tipo de recurso: em um teste às cegas, 80% dos pacientes preferiram a resposta dada por um modelo de IA (no caso, o ChatGPT) em comparação com a de médicos humanos. O motivo? Clareza, empatia e assertividade.

Medicina personalizada e genômica acelerada

Se o Projeto Genoma levou mais de uma década para mapear o DNA humano, hoje esse processo pode ser feito em poucas horas com o auxílio de IA. Startups como a canadense Deep Genomics e plataformas como a da Illumina utilizam algoritmos para analisar sequências genéticas, prever mutações perigosas e até sugerir tratamentos sob medida para o perfil biológico de cada paciente.

A chamada “medicina personalizada” — que era uma promessa em 2000 — se tornou realidade. A IA é essencial nessa equação, permitindo que laboratórios processem milhões de combinações genéticas rapidamente e identifiquem padrões antes invisíveis ao olho humano.

IA está em mais da metade dos hospitais

Segundo um relatório da Global Market Insights, o mercado global de IA na saúde deve ultrapassar US$ 200 bilhões até 2030. Em 2025, estima-se que mais de 60% dos hospitais nos Estados Unidos e na Europa já utilizem inteligência artificial em ao menos uma etapa do atendimento médico, seja na triagem, no diagnóstico, na gestão de leitos ou na análise de exames.

O Brasil segue a mesma tendência. Hospitais como o Albert Einstein, Sírio-Libanês e redes públicas estaduais já testam modelos preditivos para controle de infecções hospitalares, otimização de equipes e redução de custos.

Robótica médica e tecnologias futuristas já em uso

Além dos algoritmos, a integração entre IA e robótica tem levado a medicina a patamares antes considerados ficção científica. Confira algumas tecnologias de ponta já em uso ao redor do mundo:

  • Interfaces cérebro-máquina (BMI):

Empresas como a Neuralink, de Elon Musk, já realizam testes clínicos em humanos com implantes cerebrais que permitem controlar dispositivos com o pensamento. A Synchron, outra empresa do setor, desenvolveu uma interface menos invasiva que não requer abertura do crânio. Estas tecnologias prometem revolucionar o tratamento de condições neurológicas e permitir que pessoas com paralisia controlem dispositivos digitais diretamente com a atividade cerebral.

  • Próteses neurais controladas pelo pensamento:

Instituições como a Universidade Johns Hopkins (EUA) desenvolveram braços robóticos que respondem a sinais cerebrais reais, permitindo que amputados movimentem membros artificiais com a mente.

  • Cirurgias assistidas por robôs com IA (como o Da Vinci Xi):

Utilizado em hospitais de ponta, o robô cirúrgico Da Vinci permite movimentos de alta precisão em cirurgias minimamente invasivas. Em sua versão mais recente, utiliza IA para sugerir ajustes em tempo real e evitar erros.

  • Robôs de reabilitação com aprendizado adaptativo:

Equipamentos como o ExoAtlet (Rússia) e o ReWalk (Israel/EUA) utilizam IA para adaptar a marcha de exoesqueletos às necessidades de cada paciente durante o processo de reabilitação.

  • Nanorrobôs e IA para entrega de medicamentos:

Em fase experimental, microrrobôs guiados por inteligência artificial já conseguem navegar pela corrente sanguínea e liberar fármacos de forma precisa, reduzindo efeitos colaterais.

  • Avatares médicos com IA generativa:

Clínicas nos EUA e Japão já usam avatares com reconhecimento facial e voz humanizada para auxiliar pacientes com Alzheimer, demência e ansiedade, reforçando rotinas e oferecendo companhia com base em dados personalizados. A Synthesia, empresa pioneira em vídeos gerados por IA, está desenvolvendo versões específicas para comunicação médico-paciente, facilitando explicações sobre tratamentos complexos.

Riscos e responsabilidade: IA deve ser apoio, não substituição

Apesar do entusiasmo, especialistas alertam para o uso ético e seguro da IA na saúde. Em 2024, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou diretrizes para o uso de algoritmos em diagnósticos e tratamentos, enfatizando que o médico humano continua sendo o responsável final pelas decisões clínicas.

“A IA é uma ferramenta poderosa, mas ainda pode cometer erros. O ideal é usá-la como apoio ao profissional de saúde, e nunca como substituto”, destaca Kenneth Corrêa. Ele também aponta o desafio da responsabilização: “Se um robô errar, quem responde? O hospital, o desenvolvedor, o médico?”

Além disso, há o obstáculo da aceitação social. Embora muitos pacientes elogiem a eficiência das respostas automatizadas, ainda há resistência em receber diagnósticos de uma “máquina”. “O toque humano continua sendo insubstituível em muitos casos”, reforça Corrêa.

O futuro: IA acessível e integrada

Com a popularização de modelos como ChatGPT, Claude, Gemini e LLaMA, o acesso à IA se democratizou. Hoje, qualquer estudante de medicina pode simular atendimentos ou testar diagnósticos usando plataformas abertas. Empresas de tecnologia seguem investindo pesado no setor: Amazon, Meta, IBM, Microsoft e Apple têm linhas específicas voltadas à saúde digital.

“A tendência é que a IA se integre cada vez mais aos sistemas de saúde, com soluções mais acessíveis, personalizadas e em tempo real”, afirma Corrêa. “A revolução do Genoma nos ensinou a ver a saúde em nível molecular. Agora, a IA nos permite ver em tempo digital.”

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.

Importante: A Medicina S/A usa cookies para personalizar conteúdo e anúncios, para melhorar sua experiência em nosso site. Ao continuar, você aceitará o uso. Veja nossa Política de Privacidade.