IA e Medicina na Era Digital: transformações e perspectivas
Por Wellington Ávila
No cenário atual, compreendido como Era Digital, na medicina, ainda é desafiador compreender o pleno emprego da Inteligência Artificial (IA) e seus recursos, ideias de como aplicar, como é utilizada na prática e como depositar a confiança em resultados oriundo de uma “máquina” ou “computador” que está imitando a capacidade humana. Logo, diante de algumas dúvidas e incertezas, surge o questionamento do profissional médico em ser ou não ser mais necessário na atividade. O profissional médico não será substituído pela IA, pois, todo o desenvolvimento até hoje de recursos da tecnologia são exclusivamente para serem como aliados aos profissionais de saúde, inclusive os médicos.
Existem diversas aplicações de IA que contribuem como apoio na prática médica, sendo um verdadeiro auxílio para os médicos, retornando de maneira ágil nos processos pertinentes à tomada de decisões, redução de problemas, volume de trabalho, diagnósticos, dentre outras atividades com criticidade na área.
A Inteligência Artificial é aplicada como apoio aos diagnósticos, identificando alterações precocemente em exames, viabilizando a priorização de um atendimento e agilizando a triagem nas emergências, otimizando o tempo dos médicos no que tange o atendimento com maior dedicação.
Os principais benefícios do emprego da IA na prática médica é a agilidade nos processos e assertividade na realização de procedimentos clínicos. Assim como as demais ferramentas tecnológicas, os algoritmos de aprendizagem de máquina (machine learning), são integrados aos recursos já existentes na medicina, sendo utilizados como um complemento aos sistemas e equipamentos, fortalecendo as condições, capacidades de análise e apoio às decisões médicas.
A ideia central de todo esse desenvolvimento contínuo da IA é proporcionar meios facilitadores ao ambiente hospitalar e minimizar a sobrecarga de atividades administrativas que podem ser realizadas por uma máquina, mas com o foco em otimizar o tempo do médico em prol da maior dedicação às pessoas, algo que só poderia ser realizado por um ser humano. O emprego da IA supracitado, visa promover um atendimento mais humanizado com proximidades ao paciente e seus familiares.
Mas a verdade é que os recursos de IA já estão incorporados às práticas de profissionais da saúde no Brasil e no mundo. Um levantamento realizado entre maio e junho de 2025 em 102 hospitais pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) em parceria com a Wolters Kluwer, aponta que 82% dos hospitais privados no Brasil já utilizam algum tipo de solução de Inteligência Artificial aplicado à saúde e dentro desse percentual 74% se sentem despreparados para as mudanças proporcionadas pela IA nos para os próximos dois anos.
Há um grande volume de trabalhos administrativos nas clínicas e hospitais desenvolvidos diariamente visando dar continuidade aos processos diários e de rotina, algo que ocupa a maioria dos profissionais da saúde, acarretando muita das vezes em problemas devido ocupar grande carga horária de trabalho, fazendo com que esses profissionais se dividam referente aos seus respectivos campos de atuação profissional na saúde e burocracias administrativas. É nesse cenário que é recomendável fortemente o emprego da tecnologia.
É importante destacar que os resultados oriundos das tecnologias não possuem autonomia ou qualquer respaldo legal para a emissão de laudos de maneira independente, sendo sempre necessário a análise, decisão médica e medidas julgadas cabíveis realizadas exclusivamente por um profissional médico.
Para uma IA existir, ela necessita de um ser humano presente em todo processo de desenvolvimento e manutenção dos seus algoritmos, sem a condição mencionada, não há evolução plena e satisfatória quanto ao emprego e utilização da tecnologia.
A Inteligência Artificial foi muito utilizada no período da Covid-19 e também no diagnóstico precoce de nódulos cancerígenos, sugerindo exames urgentemente, proporcionando maior tempo para discussão de casos clínicos que requerem maior atenção devido às suas urgências e complexidades.
Em alguns casos a tecnologia demonstra importante no processo de diagnóstico devido a sua capacidade de assertividade, isso se deve a base de dados correspondente à determinada temática sendo alimentada constantemente e ampliada, viabilizando no presente caso um diagnóstico mais objetivo e com segurança, eliminando a dúvida humana que poderia interferir na análise de exames e diagnóstico preciso. As vantagens apresentadas só se tornam possíveis devido serem tecnologias de aprendizado de máquina, em outras palavras, são tecnologias que evoluem de acordo com a frequência de utilização da máquina sendo utilizada por exemplo em diagnósticos, isso fortalece o aprendizado do algoritmo transformando em uma base de dados cada vez mais aprimorada para fornecer informações valiosas. A partir dessa lógica apresentada é que os dados são produzidos, coletados e armazenados a todo instante.
Atualmente há uma grande preocupação por parte das clínicas e hospitais pertinente a gestão da proteção desses dados, pois na medida que as instituições de saúde evoluem tecnologicamente, cresce paralelamente os riscos e ameaças cibernéticas quanto ao acesso indevido à base de dados. Segundo a pesquisa Digital Trust Insights 2025 da empresa de consultoria e auditoria PwC, mais de 4 mil executivos da saúde de 77 países foram ouvidos, chegando à conclusão que o setor da saúde é o que mais sofre ataques cibernéticos no mundo. De acordo com um levantamento realizado pela empresa ISH Tecnologia, no primeiro semestre de 2025 o setor da saúde sofreu mais de 11 mil violações de segurança no Brasil, sendo os dados classificados como sensíveis o principal alvo dos criminosos virtuais.
Diante do presente cenário delicado referente ao tratamento de dados, no dia 18 de setembro de 2020 entrou em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD, Lei nº 13.709/18), visando direcionar a maneira com que os dados são coletados, manuseados e armazenados.
É importante que as tecnologias que trabalham com dados estejam em conformidade com a LGPD aqui no Brasil, General Data Protection Regulation (GDPR) na União Europeia e a Health Insurance Portability and Accountability Act (HIPAA) nos EUA. Os modelos de IA emitem um alerta para quem trabalha com essas plataformas tecnológicas desde o momento que os dados estejam devidamente armazenados com os padrões recomendados de segurança.
Com os dados devidamente regulamentados pela legislação e apresentando os padrões adequados de segurança, no processo de seus cruzamentos é viabilizada a gestão da saúde da população direcionando a medicina para uma atuação de forma preditiva, gerando assim indicadores com previsões de doenças contagiosas, genéticas, hábitos saudáveis, insights com base em históricos médicos, entre outros benefícios facilitadores.
Há a possibilidade de que um percentual de exames de imagens possa apresentar erros que geram resultados inconclusivos ou complexos de serem analisados, como por exemplo o eletrocardiograma devido um posicionamento falho dos eletrodos no paciente. No presente caso, a IA e os algoritmos de machine learning identificam o problema e emite um alerta para o profissional que há a necessidade de ajustar algo e reiniciar o exame.
Um exame de imagem não conclusivo pode resultar em ausência de laudo ou até mesmo induzir o profissional a um diagnóstico equivocado, podendo afetar diversos fatores de saúde do paciente devido ao atraso ou prioridade no atendimento emergencial. A IA nesse exemplo além de evitar ou minimizar danos no estado clínico do paciente, ela também contribui com a economia de recursos e agilidade na fila de espera pertinente ao exame de imagem.
Conclui-se que o emprego da Inteligência Artificial na medicina é um caminho inovador na saúde que proporciona mais qualidade ao paciente devido o maior tempo de dedicação médica no atendimento individual, viabilizando também a otimização de processos administrativos e beneficiar as práticas médicas com o apoio objetivo da IA nas tomadas de decisões até o diagnóstico precoce de doenças graves.
O grande volume de dados produzidos é algo impossível de ser analisado pelos médicos, sendo viável e recomendado o encaminhamento para uma IA executar disponibilizando espaço de tempo para o desenvolvimento da prática médica que é insubstituível pelas máquinas ou qualquer outra fonte de recurso tecnológico.
Contudo vale destacar que a IA e seus recursos já fazem parte da rotina médica, agindo em muitas das vezes de maneira silenciosa e imperceptível à visão das pessoas, mas ela está lá sempre nos diagnósticos precoces, priorizando atendimentos, recomendando tratamentos mais eficazes, produzindo medicamentos, dentre outros meios facilitadores na saúde.
Entender a aplicação da IA na medicina não é questão de mais um conhecimento a ser agregado ao médico ou mais um campo do conhecimento a ser estudado, mas sim “mergulhar” em um processo inovador mundial em prol dos pacientes e combates às complexidades das práticas médicas exercidas pela humanidade.
*Wellington Ávila é Consultor em Governança Corporativa de Tecnologia da Informação e Cybersecurity, Diretor de Pesquisas do Instituto de Defesa Cibernética – IDCiber, Professor Universitário e Membro da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde – SBIS.