Hospitais universitários garantem formação de médicos qualificados

Por Antonio Carlos Pinotti

A rede de hospitais universitários federais no Brasil é formada por 51 instituições que são vinculadas a 36 universidades. Os dados de 2021 do Ministério da Educação revelam que, apesar da importância para a saúde assistencial, ainda é preciso expandir para que mais pessoas possam ter acesso a esse tipo de serviço, país a fora.

Os hospitais universitários têm como uma de suas principais funções contribuir para a formação de novos médicos, que podem colocar em prática todo o conhecimento que adquiriram em sala de aula, atendendo pacientes reais. Essas instituições oferecem atendimento gratuito ou com valores muito mais acessíveis que as tradicionais, beneficiando, principalmente, as comunidades onde estão inseridas.

Um dos principais pontos positivos dos hospitais universitários é a elevação do patamar técnico na assistência hospitalar. Com a presença de alunos e professores, o esforço é maior para transmitir conhecimento e novas práticas da medicina. A implantação dessas instituições repercute na melhoria na assistência, inclusive no nível de complexidade.

Objetivamente, no artigo 207 da Constituição Federal, é estabelecida a autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial das universidades, obedecendo o princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. No caso do hospital universitário, normalmente, há os centros de pesquisas associados e a extensão é à própria assistência à população.

O Brasil ainda enfrenta muitos desafios para garantir a expansão das clínicas-escola. O maior deles é construir uma equipe técnica de professores e doutores preparados para atuar nessas entidades. Além da função da assistência, essas unidades têm ensino e pesquisa, então, conseguir uma localidade que tenha conteúdo humano e científico para transferir conhecimento e implantar novas técnicas é uma das principais dificuldades.

O segundo maior desafio é o econômico-financeiro. Custear essas instituições universitárias é infinitamente mais caro que um hospital assistencial. Por conta da complexidade que se cria em torno desse tipo de serviço, esse custo aumenta imensamente.

Acredito que o número de hospitais universitários no Brasil ainda está longe do ideal. Normalmente, o que se estabelece é que toda faculdade de medicina tenha um hospital de ensino, mas, não necessariamente, um universitário para atender equipes multidisciplinares.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a função básica dos hospitais universitários é a prestação de serviços de alta complexidade e tecnologia, porém, ao meu ver não é função básica somente a alta complexidade. Não necessariamente, essas unidades se tornam um hospital terciário ou quaternário no nível de assistência e de complexidade. As principais funções dele são ensino e pesquisa, o que levam ao maior nível de complexidade.

No Brasil, os hospitais universitários cumprem essa função. Há unidades altamente complexas, mas há, também, os de média complexidade ligados a toda a rede de atenção básica. Até porque, hoje tem sido muito mais valorizada a formação médica na atenção básica do que, talvez, no universitário. Por isso, a tolerância para faculdades de medicina que não possuem hospitais universitários. Elas firmam convênio com várias instituições assistenciais e não têm hospitais de ensino.

É preciso realizar investimentos nas universidades para que esses hospitais tenham verdadeira missão junto à população, principalmente na expansão das pesquisas e expansão assistencial. É imprescindível estender o nível de assistência. Nós temos hospitais universitários de altíssima qualidade e que cumprem esse papel, assim como nós temos hospitais universitários que estão sucateados.

O Brasil possui o SUS como um grande programa social, talvez um dos maiores que nós possamos imaginar e, normalmente, os hospitais universitários têm o papel de fazer um atendimento essencialmente pelo SUS. Por isso, vejo a expansão dos hospitais universitários como uma necessidade para o país, pois seria uma forma de desafogar os hospitais essencialmente assistenciais. É preciso investir nas universidades para que possamos chegar ao cenário ideal, no qual, cada faculdade de medicina tenha seu próprio hospital universitário de ensino e pesquisa para que possamos formar médicos mais preparados para a realidade da população brasileira.


*Antonio Carlos Pinotti é presidente da Associação Hospitalar Beneficente do Brasil – AHBB

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