HSVP analisa evolução da hemodinâmica nas últimas décadas
Foi através de uma experiência em seu próprio corpo, em 1929, que o cirurgião alemão Werner Forssmann revolucionou as pesquisas sobre doenças cardíacas e desenvolveu o que serviria de base para a Hemodinâmica moderna. Forssmann introduziu um cateter na veia de seu braço e, com o controle de imagens de radioscopia, levou o tubo até o átrio direito de seu coração. De lá pra cá, o cateterismo cardíaco percorreu um longo caminho até chegar aos dias atuais, com possibilidades diagnósticas e terapêuticas. Hoje, muitos dos problemas que demandavam cirurgias podem ser resolvidos através do cateterismo, reduzindo drasticamente o tempo de internação do paciente e impactando na queda dos índices de morbidade e mortalidade.
No Rio de Janeiro, o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), na Tijuca, Zona Norte do Rio, ocupa lugar de destaque na área. Em 1988, o hospital criou de forma pioneira no estado um serviço de Hemodinâmica, na época grande novidade no país, que ajudou a colocar a instituição na posição de referência em que se encontra até hoje neste tipo de atendimento. Nessas três décadas, a unidade contabiliza mais de 25,5 mil intervenções diagnósticas e terapêuticas no serviço, que funciona 24 horas e oferece procedimentos cardíacos, vasculares e neurológicos.
“Há 30 anos, o estado do Rio contava somente com três equipamentos de cateterismo e um deles era o nosso. Foi comprada uma máquina digital que era top de linha no exterior. De lá pra cá, foram adquiridos mais dois equipamentos; o atual chegou em 2014. Os procedimentos e a tecnologia que disponibilizamos no hospital, com suporte do setor de Imagem, com exames de ressonância magnética e tomografia computadorizada, não devem em nada ao que é oferecido nos melhores hospitais de grande porte do mundo”, conta o cardiologista e coordenador do setor de Hemodinâmica do HSVP, Cyro Vargues, há 40 anos no hospital.
Primeiro stent
Em meio a esse processo, surgiram os stents cardíacos, uma das grandes evoluções para quem necessita de desobstrução das artérias coronarianas. A endoprótese, associada às técnicas utilizadas pela Hemodinâmica, permite que doenças que antes eram tratadas na mesa de cirurgia possam ser abordadas com técnicas não invasivas. O HSVP detém um marco importante nesta área: foi lá que, em 1998, foi feita a primeira angioplastia com implante de stent do Rio de Janeiro.
“Passamos a usar o cateterismo para tratamento da doença e não somente para fim de diagnóstico; o paciente faz o exame e é tratado dentro do mesmo processo na sala de Hemodinâmica. Hoje, utilizamos a técnica de implante de stent, sem a necessidade de abrir o peito, em cerca de 70% dos pacientes que antes precisavam passar por cirurgia. O material também se desenvolveu; agora usamos os stents farmacológicos que contam com um medicamento que é liberado na parede da artéria, impedindo que a lesão volte. As arritmias agudas só eram tratadas de forma medicamentosa; atualmente temos os cateteres de ablação e a maioria dos casos tem indicação de uso deles, com cura efetiva. Sem contar as obstruções de artérias cerebrais, abdominais e periféricas que passaram a ser resolvidas via cateterismo. A qualidade das imagens dos exames também melhorou muito, possibilitando uma visualização bem mais precisa das lesões”, explica Cyro.
Principais ganhos
Para o paciente, além da redução do tempo de internação e de recuperação que uma cirurgia exige, a maior segurança e menor chance de complicações que envolvem os procedimentos realizados pela Hemodinâmica são benefícios importantes. “Todos os trabalhos científicos feitos nesses anos mostram que a redução da morbidade, como complicações pós-operatórias, por exemplo, e da mortalidade foi gigantesca. A Hemodinâmica é uma das especialidades da Medicina que mais evoluiu no mundo inteiro. Hoje, quando o paciente faz um cateterismo pela via radial, que engloba cerca de 90% dos casos, ele recebe alta pouco tempo depois do procedimento. Se for por via femoral, ele fica em torno de seis horas no hospital. Nos casos de cirurgia, o tempo médio de internação é entre cinco e sete dias. A agilidade do procedimento e da recuperação impacta diretamente no melhor resultado para a saúde do paciente. Acredito que as cirurgias invasivas vão acabar. A tendência é aposentarmos o bisturi, que vai virar peça de museu”, ressalta o cardiologista.