Saiba como as Hard Sciences estão transformando a saúde

Com a corrida pela criação da vacina e desenvolvimento de equipamentos para combater a Covid-19, a ciência, principalmente no campo da saúde, é novamente colocada em foco, tal como sua importância para o desenvolvimento do país. A crise atual, por si só, torna clara a necessidade de investimentos significativos neste segmento. Se há dois anos a transformação digital era uma tendência nesse setor para que os atores envolvidos pudessem ser mais eficientes, produtivos e acessíveis, hoje configura um primeiro passo obrigatório para que a inovação continue sendo introduzida na área da saúde.

Por esse motivo, o Liga Insights, braço de inteligência da plataforma de inovação Liga Ventures, em parceria com o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, desenvolveu um estudo focado em hard sciences, para apresentar os principais movimentos no país, contando com a participação de vinte especialistas e empreendedores da saúde e inovação. “Falando em Brasil e hard sciences, conseguimos sim isolar alguns fatores ligados ao nosso ambiente empreendedor que poderiam ser refinados e ajustados para favorecer o surgimento, desenvolvimento e amadurecimento destas tecnologias. Entretanto, talvez os fatores mais importantes sejam inerentes ao mercado global como um todo, cabendo aos nossos atores de inovação pertencentes ao nosso ecossistema, aprenderem a apostar e jogar esse jogo mais vezes.” comenta Raphael Augusto, diretor de inteligência de mercado da Liga Ventures, e responsável pelo Liga Insights.

Os negócios de base científica e tecnológica no campo da Saúde são projetos que precisam de um “timing” diferente para avançar nas suas aplicações aprovadas, porque envolvem muita pesquisa, ensaios clínicos e regulamentações. No entanto, se seguir as tendências do mercado de Health Techs relacionadas ao crescimento e investimentos e a expectativa de que a ciência ocupe um lugar de importância ainda maior não apenas no Brasil, mas também no mundo, negócios ligados à biotecnologia em Saúde podem apresentar um futuro promissor.

De acordo com informações do CB Insights, o setor de health care registrou, em 2019, 4.959 deals (investimentos realizados em startups do setor), número recorde do segmento, totalizando mais de US$ 54 bilhões em investimentos. Startups de biofarma – empresas com foco em pesquisa, desenvolvimento e comercialização de fármacos de derivação química ou biológica – foram responsáveis por aproximadamente US$ 25 bilhões do total, em um cenário de crescente interesse da China pela categoria.

Em 2020, os investimentos em startups de biotecnologia também apresentaram crescimento no mundo, comparando o primeiro trimestre em relação ao último de 2019, registrando o valor de US﹩ 6 bilhões em investimentos, US﹩ 1 bilhão a mais em relação ao último trimestre do ano passado. Do total, esse setor foi responsável por US﹩ 2,7 bilhões do total, somando 67 novos negócios; destaque também para o segmento de desenvolvimento de medicamentos, que totalizaram US﹩ 605 milhões em investimentos, valor 61% maior em relação ao registrado no último trimestre de 2019.

Um dos motivos para o aumento de pesquisas e investimento no setor está diretamente relacionado ao aumento de parques tecnológicos, que hoje já estão presentes em 21 das 27 regiões brasileiras, somando 103 no total. Além dessas áreas de inovação, as incubadoras e aceleradoras assumem papéis importantes na criação e desenvolvimento de novos negócios com base tecnológica e científica. Um grande exemplo, sediado em São Paulo, é o Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia), entidade que gere a Incubadora de Empresas de Base tecnológica de São Paulo USP-Ipen e o principal pólo desse segmento na América Latina. Atualmente, o Centro possui aproximadamente 100 empresas incubadas, sendo 40 delas com foco em Hard Sciences no segmento de Saúde.

Segundo o Gerente de Inovação e Educação Médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Gustavo Prado, o estudo traz uma análise abrangente e aprofundada do cenário de inovação em saúde e ciências da vida. “Foi possível explorar os diferenciais que vão desde um diálogo intersetorial, até as oportunidades de construções de novas soluções, além dos modelos clássicos e uma prospecção bastante crítica dos ecossistemas de startups que interagem com as nossas organizações”, aponta.

De acordo com dados do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), em 2017 foram R﹩ 82,8 bilhões investidos em P&D (pesquisa e desenvolvimento) no Brasil, dos quais aproximadamente R﹩ 41,2 bi (49,72%) foram dispêndios públicos e R﹩ 41,6 bi (50,28%) vieram do setor privado. No entanto, um dos principais desafios enfrentados pelos pesquisadores e empreendedores é o de transformar todas as pesquisas científicas em, de fato, soluções inovadoras, já que ainda falta uma comunicação entre academia e indústria para fortalecer o conhecimento de empreendedorismo aos pesquisadores e cientistas.

“Uma das possíveis evoluções, que também acreditamos, é na inter-relação e cooperação entre os atores do ecossistema de inovação, como governos, o meio empresarial, investidores, as instituições acadêmicas e a sociedade civil. Além disso, é necessário que a indústria entenda os movimentos de co-desenvolvimento e inovação aberta é algo necessário, priorizando estas ações e aproximações do ambiente empreendedor. É necessário um sentimento de parceria, mais do que de fornecimento.”, finaliza Raphael Augusto.


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