A telemedicina conseguirá sobreviver no Brasil?
Se a pandemia do novo coronavírus acelerou o desenvolvimento de ferramentas que otimizaram o atendimento médico à distância no Brasil, o momento atual é de maturação deste mercado. Considerando o hype cycle iniciado por aqui ao longo de 2020, o período é de consolidação de práticas e de conhecimento.
“A gente entende que o Brasil está mais lento neste processo. No mundo, a telemedicina está em um platô de produtividade. Aqui, só com o gatilho da pandemia, as leis brasileiras passaram a liberar a teleconsulta. Isso gerou um pico de expectativas por parte das operadoras de saúde, das empresas de software quanto e dos próprios pacientes com a demanda reprimida”, contextualiza Marcos Sonagli, diretor médico da startup Amplimed.
Neste período inicial, segundo o especialista, predominava a ideia de que a telemedicina seria solução “para tudo”, o que estimulou a multiplicação dos players atuantes no setor. De lá para cá, boa parte das noções já se transformaram e expectativas como a da redução de custos a partir da telemedicina já ganham contornos mais realistas. E sabe-se que nem todo mundo desejará seguir sendo atendido via teleconsulta.
“As próprias operadoras de saúde sofreram fraudes: pacientes que assinam o plano de teleconsulta e põem outra pessoa para ser atendida, por exemplo”, diz Sonagli. Furos assim passaram a ameaçar não só a receita das empresas, mas também a renda dos médicos, causando a suspensão de atendimentos por falta de pagamento. Além disso, os empecilhos burocráticos e as grandes complexidades características do mercado de healthcare no País devem apresentar desafios redobrados na nova fase da telemedicina brasileira.
Se, por um lado, após o boom inicial, algumas decepções vieram à tona; por outro, o aprendizado acumulado pelo setor já gerou saberes sólidos que vem sendo reorientados a fim de garantir vida longa ao atendimento médico a distância. “Aí entram serviços específicos como telerradiologia, telepatologia, retornos e consultas de baixa complexidade”, observa o diretor médico.
No tão aguardado período pós-pandemia, a telemedicina brasileira sofrerá novos ajustes e adaptações. “Se, após a pandemia, vier uma lei proibindo a teleconsulta, a telemedicina pode morrer precocemente. Acredito que isso não acontecerá e que virão novas necessidades como o surgimento de especialistas virtuais: médicos que precisarão ter capacidade de transmissão de conhecimento, gerar empatia e ter uma performance técnica para um novo modelo de reconhecimento de casos, sem o exame físico”, conclui Sonagli.