Como será o amanhã da assistência em saúde?
O futuro da assistência em saúde tem passado por grandes quebras de moldes, tendo que se distanciar do modo tradicional e conservador. O cuidado com o paciente não deve ser visto mais como apenas tratamento de condições que acometem uma pessoa, seu estado físico e mental, nem mesmo o paciente deve ser pensado como um agente passivo ao seu atendimento. É necessário que seja relevada uma abordagem mais preventiva de cuidado e adaptações dos serviços em saúde e de seus profissionais para atender às constantes mudanças tecnológicas e a pacientes que demandam por diferentes abordagens médicas e assistenciais.
A questão atualmente abordada de colocar o paciente como o centro das atenções já não é um conceito novo, mas ainda é um grande desafio para a gestão em saúde. O sistema atual é fragmentado e dependente de diversos especialistas, prática que eleva os custos de um tratamento. Para além, esse modelo acaba excluindo o paciente da participação efetiva em sua condição e nas soluções propostas, além da perda da visualização do indivíduo como um ser completo e único. Dessa maneira, estratégias de renovação são emergenciais para a evolução do cuidado em saúde. Tais adaptações não dependem apenas de processos tecnológicos, mas também das formas de analisar e enxergar uma solução capaz de propor, dentro do ambiente de cuidado e mercado da saúde, métodos de dar um passo à frente e mudar as práticas de condução, sempre com o intuito de alcançar as expectativas dos pacientes.
Dentro desse contexto, emerge o conceito de medicina de precisão ou medicina personalizada que apresenta a capacidade de analisar e obter dados específicos de cada paciente, a fim de analisá-los de maneira precisa, individualizada e mais eficiente. A biologia molecular, aliada às análises de bioinformáticas, auxiliam na associação de determinadas alterações no genoma do paciente com o desenvolvimento de doenças, como, por exemplo, na detecção de diversos tipos de cânceres. Sob o contexto das doenças infecciosas, consegue-se avaliar os genes relacionados à resistência de microrganismos aos antimicrobianos, direcionando a terapêutica com redução de custos hospitalares.
A saúde, então, assim como outros mercados, deve se transformar e vem se atualizando nos últimos anos, especialmente impulsionada pela pandemia do novo Coronavírus. No âmbito do diagnóstico, a associação entre tecnologia, medicina de precisão e disrupção de paradigmas dentro do cuidado em saúde propiciou uma gama de dados que podem auxiliar no monitoramento e acompanhamento de maneira individual. Essa geração de dados, por si só, não traz benefícios, porém quando analisados podem ser de grande valia tanto para empresas, médicos e, principalmente, para a adoção e implementação de iniciativas que agregam valor para os pacientes em termos de segurança, diagnóstico e prevenção. Ter os dados certos e saber utilizá-los é uma das chaves para o sucesso na assistência altamente especializada, eficaz e assertiva em saúde, podendo até prever doenças e antecipar tratamentos.
Logo, o amanhã da assistência na perspectiva do hoje consiste na prevenção sistêmica e individualizada, considerando o paciente no centro do cuidado e participante ativo de seu atendimento. No entanto, este futuro depende de alterações urgentes nos paradigmas atuais da atenção à saúde, aliando tecnologia ao ambiente de trabalho da saúde, estabelecendo valor a partir de dados tanto para as instituições e seus processos, buscando a otimização dos recursos, gerando melhores desfechos clínicos, aumentando a qualidade dos serviços propostos, e ampliando o acesso dos usuários dos sistemas de saúde.
*Silvia Helena Sousa Pietra Pedroso é analista sênior em Diagnóstico Molecular de Doenças Infecciosas.