Se o Brasil tivesse fundos de cannabis como os Estados Unidos

Por Fabrizio Postiglione

Após dados recentes revelarem que os fundos de cannabis nos Estados Unidos caíram pela metade nos últimos 12 meses e continuam caindo ao longo do tempo, muitos investidores têm se questionado se realmente vale a pena aplicar nesse mercado, por acreditarem que ele é muito volátil, considerando que no início de 2021 ele disparou com ganhos exponenciais e agora apresenta uma drástica queda.

O que aconteceu no mercado norte-americano é que a maior parte desses recursos foi posicionada no topo da curva em fundos de investimentos que englobam empresas de capital aberto e, consequentemente, acabam apresentando uma volatilidade muito grande, que está ligada à alta do setor de cannabis em 2021, a questões regulatórias e ao risco cambial.

Ao longo da história, o mercado norte-americano teve três picos de alta no mercado de cannabis (2014, 2018 e 2021), onde nos primeiros anos o segmento teve uma altíssima valorização. Depois disso, no fim de 2018, os EUA federalizaram o uso do canabidiol e o país inteiro se movimentou para aproveitar essa liberação, fazendo com que o mercado ficasse saturado. Isso causou um grande boom momentâneo de crescimento no setor que acabou durando pouco tempo. Só agora, após toda essa euforia, o mercado vem se autocorrigindo.

Embora a queda tenha sido expressiva, o mercado norte-americano ainda é um dos maiores em questões de movimentação financeira com a o setor canábico e uns dos que mais vem avançando na regulamentação do insumo, já que recentemente, a Câmara dos Estados Unidos aprovou um projeto de lei para descriminalizar a cannabis em todo o país — embora a legislação ainda precise ser aprovada no Senado.

Em geral, o segmento de cannabis é muito promissor e, como todo investimento, seu segredo está no timing, ou seja, em ter o senso de oportunidade quanto ao momento certo de realizar uma aplicação e desenvolver um novo projeto.

Por isso, se esses fundos que despencaram nos EUA estivessem hoje alocados no mercado brasileiro, haveria uma oportunidade muito maior, porque aqui ainda estamos no começo da curva. Apesar do país já comercializar cannabis medicinal desde 2015, foi somente em 2021 que o setor começou a gerar uma tração, e só agora temos números de certa relevância.

É só ver os dados. Nos últimos cinco anos, o mercado de cannabis para uso medicinal no Brasil vem crescendo em média 120% ao ano e segundo pronunciamentos do ex-presidente da Anvisa, William Dib, em breve mais de 20 milhões de brasileiros poderão se beneficiar do medicamento.

Outro fato importante que ilustra esse alto potencial do mercado brasileiro de cannabis é que a Colômbia, importante player global desse setor, está toda voltada para o objetivo de fazer negócios e parcerias comerciais com o Brasil, principalmente pelo país por ser o maior mercado da companhia aérea LATAM e um dos maiores do mundo.

Estima-se que o Brasil será um dos maiores players globais de cannabis medicinal por uma série de razões. A começar pelo tamanho da população, a atuação do SUS, que já vem trabalhando para incorporar a medicação em seu sistema, e, claro, pela diversidade de uso que o produto oferece.

Além disso, o Brasil é um dos maiores formadores de startups unicórnios da América Latina. Na indústria da Cannabis, essa tendência não será diferente, pois, de acordo com projeções da Kaya Mind, esse mercado pode movimentar R$ 26,1 bilhões e gerar 117 mil empregos no Brasil até 2025, se regulamentado.

Atualmente, nós temos algumas empresas no mercado que estão em fase – ou estarão em breve -, de captação para o desenvolvimento do mercado brasileiro e latino-americano, até mesmo para suprir outros continentes como a Europa.

Com base nessas questões, pode ser uma ótima oportunidade entrar nessas empresas como investidor anjo, seed, ou nos primeiros rounds, porque em breve a probabilidade é que as rodadas e as evaluations estejam muito maiores e prontas para investimentos institucionais ou até mesmo com capital aberto na bolsa brasileira, onde normalmente esses investidores iniciais conseguem fazer uma saída de sucesso. Agora, é a vez do Brasil surfar a mesma onda ocorrida em 2014 e 2018 nos EUA.


*Fabrizio Postiglione é fundador e CEO da Remederi.

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