Dia Mundial de Luta contra a AIDS: prevenção e adesão ao tratamento

Em 2025, o Brasil completa 40 anos da resposta nacional ao HIV, iniciada pelo Ministério da Saúde em 1985. Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) destacam que esse período marca conquistas fundamentais, como o controle da transmissão sanguínea e da transmissão vertical (da mãe para o bebê), assim, como o acesso universal ao tratamento por antirretroviral, que aumentou qualidade de vida das pessoas infectadas e reduziu a mortalidade por aids, resultados diretos das políticas públicas e da estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS).

Esse marco histórico também lança luz sobre desafios que persistem. O principal deles é eliminar a transmissão sexual do HIV e a morte por aids até 2030, meta estabelecida pelas Nações Unidas e assumida pelo Brasil. Segundo especialistas da FMUSP, o país avança de forma desigual e precisa acelerar políticas de prevenção, diagnóstico e tratamento para alcançar esses objetivos.

80% dos municípios têm epidemia estabilizada ou em crescimento

Estudo conduzido pela FMUSP em 2024 mostra que quase 80% dos municípios brasileiros apresentam tendência de estabilidade ou crescimento de novos casos de HIV e correm o risco de não atingir as metas. Com isso, o Brasil ainda está distante de atingir o patamar de eliminação – definido como a redução de 90% dos casos em comparação a 2010.

A pesquisa revela uma forte desigualdade regional: municípios do Norte, Nordeste e Centro-Oeste têm probabilidades que variam entre 4,9 e 9,6 vezes a mais de registrar municípios com aumento da infecção do que aqueles da região Sul. O país vive, portanto, uma divisão entre áreas que podem alcançar a eliminação e regiões onde a epidemia permanecerá ainda mais intensa.

Crescimento entre jovens acende alerta

Apesar da queda observada nas décadas anteriores, pesquisadores da FMUSP destacam que as infecções por HIV voltaram a crescer entre jovens. Esse aumento se associa a mudanças nas práticas sexuais e a novas formas de sociabilidade, em um contexto em que campanhas públicas ainda centradas na valorização do preservativo não têm sido suficientes para responder à complexidade atual da prevenção.

“Entre adolescentes e jovens, as mensagens de prevenção muitas vezes não chegam de forma clara nem fazem sentido em seu cotidiano. O que chega até eles ainda está baseado em modelos antigos, centrados apenas no preservativo”, afirma a Profa. Marcia Couto, titular do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP, que pesquisa dinâmicas sociais e desigualdades na epidemia.

PrEP é a única estratégia capaz de reduzir significativamente a incidência

Marcia Couto e Alexandre Grangeiro

Após quatro décadas, o uso do preservativo segue relevante, mas não reduz a incidência, apenas desacelera o crescimento da epidemia. A única intervenção comprovadamente capaz de diminuir de forma expressiva os novos casos e que pode ser usada por pessoas não infectadas é a Profilaxia Pré-Exposição Sexual (PrEP).

Atualmente, o SUS oferece a PrEP oral diária e sob demanda, indicada com base em comportamentos que aumentam o risco de infecção. Por exemplo, pessoas com parcerias casuais, sexo comercial sem uso de preservativo ou com parceiros vivendo com HIV podem fazer uso da estratégia.

Apesar disso, embora a cobertura nacional da PrEP tenha aumentado, ela ainda é insuficiente para impactar a trajetória da epidemia. “A PrEP é o instrumento mais potente que temos hoje para interromper a transmissão sexual do HIV. Mas, para produzir impacto real, ela precisa chegar a muito mais gente. Não se trata apenas de disponibilizar o medicamento, é necessário facilitar o acesso, ampliar a oferta de serviços e reduzir as barreiras que afastam principalmente jovens e populações mais vulneráveis da prevenção”, afirma Alexandre Grangeiro, pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP.

PrEP injetável: Inovação promissora enfrenta barreiras de custo e aprovação

Uma das alternativas mais promissoras é a PrEP injetável de longa duração, baseada nos medicamentos cabotegravir e lenacapavir, que podem oferecer proteção de dois a seis meses. Um protocolo para aplicar a versão bimestral no SUS está sendo estudada na FMUSP.

Dois fatores, porém, impedem sua incorporação imediata no SUS: o preço elevado, devido a proteção patentária; e a ausência de aprovação pela Anvisa – cuja análise está em andamento; e as negociações de preço com o Ministério da Saúde, ainda sem definição.

Ampliar o acesso às modalidades de longa duração é essencial para que o país alcance as metas de eliminação até 2030.

Risco de perpetuação da epidemia

Caso políticas de prevenção, diagnóstico e cuidado não avancem, o país pode manter uma epidemia ainda mais intensa nos próximos anos, especialmente em regiões marcadas por desigualdades estruturais e menor acesso aos serviços de saúde.

“Temos um país dividido: um Brasil que pode atingir as metas de eliminação e outro que continuará convivendo com o HIV de forma prolongada”, conclui a Profa. Marcia Couto.

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