A atuação dos hospitais filantrópicos e o caos na saúde

Por Jeff Plentz

O setor dos hospitais é bastante representativo e essencial à vida de todos nós. Diante dos desafios dos últimos anos, é imprescindível louvar a atuação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas, que, juntos, respondem por mais de 60% do atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Enquanto vemos um alarde sobre mais de 500 bilhões investidos no SUS, não lemos que isso só aumentou a sustentação da ineficiência pública, hoje custando 8 a 12 vezes mais do que a saúde filantrópica, que sequer é ouvida sobre os 20 bilhões de desequilíbrio anual entre sua produção para o SUS e o que recebe. Hoje para cada R$ 1 produzido em assistência nos filantrópicos, apenas R$ 0,44 são pagos pelo SUS.

No Brasil, 80% das pessoas dependem exclusivamente dos serviços públicos disponíveis para realizar qualquer tipo de atendimento de saúde, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ou seja, o SUS é prioridade para mais de 150 milhões de brasileiros, o que o torna o maior sistema de saúde do mundo.

A representatividade do setor é traduzida, também, pelos dados da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB) e de suas 18 Federações, que formam a maior rede hospitalar do País, com cerca de 1.824 hospitais sem fins lucrativos, mais de 990 mil empregos diretos; quase mil municípios que têm os filantrópicos como a única unidade de saúde; e perto de 4,7 milhões de internações por ano, o que representa mais de 40% do total do SUS.

No entanto, todo esse universo está em iminente colapso em várias de suas estruturas, que não estão dando conta de atender as demandas da população brasileira em função da falta de qualidade na contratualização entre filantrópicos com municípios e Estados, que frequentemente tem níveis inadequados de qualificação para gerir um tema tão complexo como volume e qualidade assistencial. Isso tem colocado em xeque Santas Casas e hospitais filantrópicos, que correm o risco de fechar suas portas em função da falta de repasses financeiros do governo federal para os atendimentos ao SUS. O quadro ficou ainda mais dramático durante a pandemia de Covid-19, que acentuou a crise sanitária do país, elevando a demanda e os custos, e fazendo com que o déficit anual recorrente aumentasse de R$ 17,2 bilhões para mais de R$ 20 bilhões, e em crescimento, pois existe um represamento enorme de tratamentos esperando por atendimento.

De acordo com levantamento da CMB, nos últimos seis anos, 315 instituições tiveram que encerrar suas atividades no país por falta de verba suficiente para continuar operando. Aqueles que continuam ativos, operam um “milagre” ao manter suas operações por meio de recursos próprios, doações, emendas parlamentares, e parte do atendimento aos planos de saúde, que ajudam, de alguma maneira, a cobrir o déficit gerado pelo atendimento ao SUS.

Um fator determinante para o ganho de eficiência é a escala, e ao digitalizar as jornadas assistenciais dos pacientes para fora dos muros dos hospitais e integrar as linhas de cuidado com informações completas e conectadas entre governo, filantrópicos, privados e operadoras, o “open health” se materializa na redução de custos que limpa a gordura das engrenagens de relacionamento entre os atores da cadeia de saúde e o ganho significativo de qualidade, percebida por meio da redução dos tempos de atendimento, pela assertividade no encaminhamento de casos entre instituições e profissionais e pelo aumento da resolutividade precoce das doenças.

Além disso, a transformação digital permite conectar diretamente os hospitais, em tempo real, entre si e às fontes pagadoras, e gera um Big Data na área da saúde que habilita a inteligência e mineração de dados, coleta e tratamento de informações de distintas fontes – nacionais e internacionais – para identificar potenciais anomalias de mercado, compartilhar conhecimento e gerar oportunidades para reduções de custos em curto, médio e longo prazos, que vão desde o controle de estoque de produtos até a possibilidade de redução de custos em compras compartilhadas.

Enfim, o setor se reinventa, busca alternativas por meio do investimento em inovação, mas, ainda assim, carece de uma justa remuneração dos procedimentos e dos serviços prestados, para evitar o fechamento de leitos e a diminuição de atendimento à população.


*Jeff Plentz é presidente do Conselho de Administração da techtools health.

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