Mercado: a resposta à crise das farmácias independentes

Por Ricardo Kunimi

O Brasil tem mais de 93 mil farmácias em operação, segundo dados da IQVIA. Esse número tem crescido ano após ano. Entre janeiro e agosto de 2024, mais de 15 mil novas farmácias foram abertas no país. Trata-se de um dos maiores mercados farmacêuticos do mundo, ocupando o 6º lugar no ranking global, responsável por movimentar mais de R$ 200 bilhões por ano.

Nos grandes centros urbanos, há concentração de farmácias, mas fora das capitais e das regiões centrais, a realidade é bem diferente, especialmente no interior do Nordeste, em áreas mais periféricas e em municípios de médio porte, onde faltam unidades com estrutura e acesso a medicamentos, produtos de bem-estar e serviços básicos de saúde. Nesse contexto, surgem os chamados hubs de saúde, nos quais farmácias investem cada vez mais em serviços clínicos, como aferição de pressão, testes rápidos e acompanhamento farmacoterapêutico, ampliando seu papel como ponto de cuidado primário nas comunidades.

Esse cenário tem provocado dois movimentos simultâneos: de um lado, a concorrência acirrada está pressionando pequenos varejistas, principalmente os independentes, que enfrentam a chegada de grandes redes com capital aberto com acesso privilegiado à indústria, ao marketing estruturado e aos programas robustos de fidelização e de tecnologia. Do outro lado, empreendedores locais estão buscando alternativas para sobreviver e se profissionalizar, focando em uma estratégia que tem ganhado força: a conversão de farmácias independentes em unidades franqueadas dentro de redes nacionais com suporte técnico, comercial e operacional.

Além da competição desigual, os pequenos empresários enfrentam uma série de desafios estruturais que comprometem a sua sustentabilidade. Um dos principais é a margem de lucro extremamente apertada. Sem o poder de compra das grandes redes, farmácias independentes pagam mais caro pelos mesmos medicamentos e produtos, o que as obriga a praticar preços menos competitivos ou sacrificar a rentabilidade. Em cidades do interior, por exemplo, é comum encontrar farmácias que operam com faturamento mensal inferior a R$ 40 mil, o que mal cobre os custos fixos.

Outro gargalo é a gestão de estoque. Sem sistemas automatizados ou inteligência de dados, muitos empresários compram com base na intuição ou a partir de experiências passadas, o que pode levar a excessos de produtos com baixa saída ou, pior, pode levar a um cenário de vencimento de medicamentos, o que representa prejuízo direto e perda de confiança do consumidor. Em paralelo, a falta de escala reduz o poder de barganha com distribuidores, que priorizam grandes redes e impõem condições menos vantajosas aos pequenos.

A ausência de presença digital também pesa. Em um cenário onde o consumidor está cada vez mais conectado, muitas farmácias independentes ainda não possuem e-commerce, redes sociais ativas ou sequer um sistema de gestão integrado. Isso limita o alcance da marca, dificulta a fidelização e impede a coleta de dados sobre o comportamento do cliente, algo essencial para estratégias modernas de marketing e vendas.

A burocracia é outro obstáculo constante. As exigências da Anvisa, da vigilância sanitária e de órgãos municipais são complexas e, muitas vezes, difíceis de acompanhar sem apoio técnico. Pequenos empresários relatam dificuldades para manter a documentação em dia, realizar treinamentos obrigatórios e adaptar suas estruturas físicas às normas vigentes.

Além disso, também existe a dificuldade de acesso a crédito e de retenção de profissionais qualificados. Muitos empreendedores não conseguem financiamento para modernizar suas lojas ou investir em tecnologia. A contratação de farmacêuticos em tempo integral, exigência legal, representa um custo elevado, especialmente em cidades menores, onde a oferta de profissionais é limitada.

Por fim, a conversão para o modelo de franquia tem se mostrado uma alternativa viável e estratégica para farmácias independentes que desejam se manter competitivas em um mercado cada vez mais exigente. Ao se integrarem a redes estruturadas, esses empreendedores ganham acesso a melhores condições comerciais, suporte técnico, ferramentas de gestão e visibilidade de marca, elementos essenciais para garantir a sustentabilidade do negócio a longo prazo.

Em um cenário de transformação digital e de consolidação do varejo farmacêutico, a profissionalização por meio do franchising pode ser o diferencial entre estagnar ou crescer. Para o consumidor, isso representa mais acesso, qualidade e confiança. Para o mercado, é um passo importante rumo à democratização da saúde no Brasil.


*Ricardo Kunimi é CEO da Farmais.

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