O futuro da farmácia clínica: vacinas, testes e telessaúde

Por Cassyano Corre

A farmácia clínica retornou com força em um cenário pós-pandemia. No Brasil, essa prática volta a se popularizar em um momento que pede ainda mais cuidado com a saúde. Nesse sentido, o farmacêutico se torna um agente fundamental para fortalecer os cuidados da população, já que pode realizar mais de 100 tipos de serviços clínicos, democratizando o acesso à saúde de forma mais capilarizada, íntima e rápida. Além disso, o modelo de atendimento desafoga o sistema público e privado de saúde, tornando a farmácia um hub do ecossistema da saúde.

Durante a pandemia do coronavírus, cerca de 20 milhões de brasileiros fizeram os testes de Covid em farmácias e 23% deles, aproximadamente 4,8 milhões de pessoas, foram detectadas com o vírus. É um número expressivo de vidas que podem ter sido salvas no país e um elemento que impulsionou a consolidação da farmácia clínica nos últimos anos.

Além de poder vir a se tornar um braço do Sistema Único de Saúde (SUS) do país, o serviço contempla a queda de paradigma do cuidado com a população, que passa a ter apoio mais próximo para ser examinada, medicada, aferir a pressão, receber vacinas ou realizar testes rápidos de forma eficiente e prática.

Nesses serviços, a base de um modelo promissor já se apresenta como tendência para 2023. O tripé telessaúde, vacinação e testes rápidos serão pilares do crescimento da farmácia clínica. Em uma sociedade pós-pandemia e cada dia mais digitalizada, o segmento de saúde não poderia ficar de fora da transformação tecnológica.

Haja vista a telessaúde, uma tendência que era incipiente no Brasil em 2020, ganhou corpo e amadureceu em poucos meses. Com as restrições de contenção da Covid-19, o modelo de atendimento se popularizou e se mostrou ainda mais eficiente do que o previsto, trazendo economia de custo e deslocamento, menor risco e maior comodidade aos pacientes.

Com o objetivo de aprimorar a atenção básica à saúde, aproximar organizações públicas e privadas, qualificar o atendimento oferecido pelo SUS – considerando que apenas 22% dos brasileiros têm planos de saúde – e ampliar as margens de faturamento das empresas do setor, a telessaúde já se tornou uma funcionalidade da vida diária, com capacidade de exploração e abrangência.

Esse sistema reduz as filas de espera, a necessidade de encaminhamentos e permite atendimentos multiprofissionais com rapidez, eficiência e baixo custo. Historicamente, a população confia na farmácia como uma instituição de apoio dentro de sua comunidade e, agora, poderá otimizar seus tratamentos perto de casa e com segurança.

O segundo pilar desse futuro é a vacinação. Quando se fala em políticas de saúde pública no Brasil, as atividades relacionadas à vacinação ocupam posição de destaque, trazendo bons resultados na prevenção e erradicação de doenças imunopreveníveis. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) é considerado referência para ações semelhantes em outros países, graças ao sucesso das campanhas que erradicaram a varíola, por exemplo.

A administração de vacinas em farmácias e drogarias facilitará o acesso da população às imunizações, contribuindo positivamente para o aumento das coberturas vacinais, sem diminuir a qualidade do serviço. Nesse sentido, a prestação dos serviços farmacêuticos é semelhante à ideia de um sistema de saúde baseado na atenção primária. As farmácias contam com fácil acesso e oferecem serviços que podem contribuir positivamente com a qualidade de vida do indivíduo, como ocorreu no período pandêmico.

Ainda relacionados aos surtos virais, os testes rápidos finalizam o conceito de farmácia clínica do futuro. São mais de 40 exames diferentes já disponíveis por tecnologia “point-of-care”. Um exemplo é o tratamento do HIV, que justamente com o avanço das pesquisas teve uma evolução consistente quando os testes rápidos começaram a se popularizar fora dos hospitais e dos laboratórios. Pacientes infectados pelo HIV que são tratados precocemente têm menos complicações e são menos propensos a infectar outras pessoas do que aqueles que esperam para serem tratados. É o mesmo quadro apresentado na pandemia da Covid-19.

Dentro desses aspectos, outra tendência inegável é o crescimento das opções de jornadas digitais dos pacientes, permitindo maior integração entre o online e o offline, e um foco cada vez maior na disponibilização de informações sobre desfechos de saúde e interoperabilidade de dados nas mãos do paciente, como protagonista de seu próprio cuidado.

Com o atual cenário competitivo e as demandas dos pacientes por atenção à saúde, as farmácias e drogarias se tornam alternativas eficazes para atenderem às diversas necessidades do mercado, consolidando um modelo de serviço promissor e viabilizando novas camadas de faturamento para os estabelecimentos. É uma via para a excelência da saúde em um modelo colaborativo e lucrativo.


*Cassyano Correr, Fundador e CEO da Clinicarx, parceiro da InterPlayers.

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