Faculdade de Medicina ou mina de ouro? Desafios atuais do setor
Já temos no Brasil 354 escolas médicas. Atualmente, as vagas do primeiro ano de medicina são 35.536. Ao todo, caminhamos para 600 mil médicos no país. Paradoxalmente, faltam profissionais para atender os pacientes em diversos municípios e em áreas remotas. Para piorar, forma-se muito mal parte expressiva de nossos futuros doutores, o que redunda em mais problemas para a assistência e não em soluções.
Sempre reitero: a medicina é a profissão da entrega, do amor. Nada substitui o que se aprende à beira do leito. Aliás, só aprende e só a exerce com dignidade aquele que realmente vive o dia a dia do seu paciente, que é parceiro quando de problemas e vive intensamente as conquistas dele.
O médico tem participação social essencial na construção da cidadania. Por consequência, é mister que as faculdades também trabalhem o humanismo em seus currículos.
Nossas escolas devem ter hospitais de treinamento, preceptores e professores qualificados, além de uma grade de ensino que reflita as demandas dos pacientes, os avanços em tecnologia e tratamento, mas sempre mantendo o foco no doente, no bem-estar, não na doença.
Historicamente enfrentamos complicadores no campo da saúde, como a falta de verbas no SUS, falhas na gestão e outros. Talvez precisemos de mais tempo para escapar deles. Entretanto, uma das falhas que só exige atitude para resolver é a abertura sem critérios de escolas médicas.
É lamentável ver como se abrem cursos médicos como se fossem brincadeira. Particularmente na região sul e mais ainda em São Paulo, faculdades de medicina brotam com visão 100% mercantilista.
Estamos chegando a mais um período eleitoral. Sugiro sensibilizar eventuais candidatos a assumir compromisso com a qualidade da assistência, não em quantidade que só nos entrega médicos sem base de oferecer saúde de bom nível aos brasileiros.
Medicina não é igual às outras profissões, igualmente ressalto toda vez que possível. As decisões de quem a exerce à beira de leito impactam nossas saúde e vida.
Não preciso falar mais nada. Responsabilidade é tudo nessa área.
*Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.