Estados Unidos devem realizar 1 bilhão de consultas virtuais
O segundo dia do 23º Congresso Internacional UNIDAS contou com debates sobre a transformação da saúde pela inovação, os aprendizados e tendências pós-pandemias de sistemas de saúde pelo mundo – com palestrantes de países como E.U.A, Israel e Argentina -, modelos de remuneração baseados em valor e saúde, com palestrantes de Portugal, Holanda e Bélgica, e a saúde na era pós-digital. O evento aconteceu em formato híbrido com participação presencial restrita e transmissão ao vivo na Casa de Campo do The Royal Palm Plaza, em Campinas, São Paulo, e somou mais de 2.800 mil inscritos.
Transformando a saúde pela inovação
O painel para discutir sobre como transformar a saúde pela inovação contou com a moderação de Josier Vilar, presidente do Fórum Inovação Saúde (FIS) – responsável por essa curadoria. Bruno Zawadzki, diretor de soluções educacionais do IBKL, iniciou as apresentações falando sobre inovação em capacitação de profissionais de saúde. “A educação continuada não é um custo, é um investimento. Um profissional bem treinado, inclusive, reduz custos”. explica.
Bruno falou sobre a importância de preparar e qualificar esses profissionais para esse novo mercado e quais as melhores maneiras de fazer isso, incluindo metodologias ativas de ensino, soft skills e ensino híbrido. “O que ficou de lição com essa pandemia é que existe uma necessidade de adaptação e temos uma oportunidade de inovar, trabalhar com educação continuada, metodologias de ensino ativas, como aquelas baseadas em problemas, nas dores daquele profissional. Além disso, também podemos atuar com estratégia de ensino híbrido, acelerado pela pandemia, e trabalhar com empatia, acolhimento e comunicação”.
João Luiz Souza, professor de Governança e Gestão em Saúde da Fundação Getúlio Vargas deu continuidade falando sobre como inovar em governança. “A inovação em governança é crucial na medida em que diz respeito diretamente ao ambiente corporativo, em especial nos desafios de sustentabilidade e da transparência”. De acordo com João Luiz, para transformar a saúde pela inovação é necessário conhecer os reais valores para os pacientes no desenho de modelos de prestação de serviços e mudar radicalmente os modelos de remuneração. “Os maiores desafios são as atuais práticas de mercado e as relações dos players e stakeholders do segmento saúde, o desenvolvimento de ferramentas de Tecnologia da Informação (TI) e alguns marcos regulatórios no ambiente jurídico”.
Em seguida, Guilherme Hummel, CEO da eHealth Mentor Institute, falou sobre a inovação por tecnologias disruptivas e como o setor de saúde estava atrasado e até resistente nas implantações tecnológicas. De acordo com Hummel, os players de saúde que não entenderem a transformação digital estão fora do mercado em pouco tempo. “Quem não estiver dentro do propósito da inovação vai ficar fora do setor. Cada vez mais os usuários vão pleitear junto aos planos de saúde, hospitais e médicos por mais tecnologia. “Os players do setor que não entenderem a transformação digital e a digitalização estarão fora do mercado”, explica.
Hummel também falou sobre algumas inovações que já foram incorporadas ao mercado e deixarão de ser discutidas em pouco tempo, como telemedicina e algoritmos ou inteligência artificial. “Quem não oferecer telemedicina será expurgado do mercado. Não vamos mais falar sobre telemedicina e inteligência artificial em breve. Porque a incorporação dessas tecnologias será tão integrada que não fará sentido discutir”.
Para finalizar, Roberto Botelho, presidente do Uberlândia Medical Center e cofundador da Conexa Saúde, falou sobre inovação em gestão clínica. “Estamos experimentando um aprendizado mais rápido e uma gestão mais eficiente. Botelho também ressaltou a importância de trabalhar com dados para tomada de decisões mais assertivas. “A tecnologia aumentou acesso, reduziu custo, evitou mortalidades, impactou diretamente a gestão hospitalar. E isso é resultado do trabalho de gestão clínica com foco em AI e BI.”
De acordo com o palestrante, a transformação digital acelerada pela pandemia deu a oportunidade para trazer eficiência, transparência e incorporabilidade ao sistema de saúde.
Pandemia: tendências e aprendizados pelo mundo
O painel “aprendizados e tendências pós-pandemia de sistemas de saúde pelo mundo” contou com a curadoria da Universidade Corporativa Abramge (UCA) e seu presidente, Carlito Marques, que abriu as apresentações falando um pouco sobre os critérios dos temas e palestrantes.
Karin Cooke, diretora da Kaiser Permanente Internacional, iniciou sua apresentação falando um pouco da Kaiser, a estrutura e o trabalho da organização, que oferece atendimento médico e hospitalar nos Estados Unidos. “A pandemia ressaltou a importância da inovação e acelerou essas mudanças. Na Kaiser, por exemplo, desde 2015 oferecemos consultas por vídeo, mas não havia muita utilização. Antes do coronavírus, as consultas por vídeo representavam 15%. Agora, 85% das consultas são realizadas por vídeo”.
De acordo com Karin, a expectativa é que 1 bilhão de consultas sejam realizadas de forma virtual nos Estados Unidos. “A Medicare, que é sistema de seguros de saúde gerido pelo governo, não tinha cobertura para consulta por telemedicina. Agora, 44% das consultas já são online”, explica a palestrante.
“Precisamos de novas formas para trabalhar, inovação em escala e alavancar o analytic de dados. Sempre pensamos em utilização, melhor oferta, melhor serviço, melhor local. No momento, pensamos em como ofertar saúde para mais pessoas e tornar essa saúde mais acessível, trabalhar em escala. Por exemplo, agora, estamos trabalhando com um projeto de como oferecer mais atendimentos, mais cuidados, em casa. Já vínhamos trabalhando com isso, mas a pandemia também acelerou esse processo. O coronavírus trouxe uma série de mudanças e estamos focados em entregar uma melhor experiência para os nossos membros”.
Na sequência, Ido Hadari, chefe de relações governamentais e comunicações da Maccabi Healthcare Services, de Israel, trouxe as experiências e desafios do enfrentamento da pandemia no país e falou um pouco da sua organização não governamental, que ajuda na manutenção da saúde aproximadamente 2,5 milhões de pessoas no país.
Entre os principais desafios durante a pandemia, o palestrante falou sobre o coronavírus e as dificuldades de separar e discernir os sintomas; como o médico acabou virando também paciente; os lockdowns e seus impactos, e a vacina contra a gripe. Hadari também abordou a telemedicina: “quase 80% das consultas estão sendo feitas à distância, hoje”, e trouxe um case de uma cabine implantada em Israel (covid-19 testing booth) para os testes rápidos serem realizados de forma separada dos atendimentos.
“Neste contexto, todo mundo, inclusive que não é da área da saúde, precisa entender que esse evento (o coronavírus) é tão poderoso e profundo, que não dá pra usar as mesmas ferramentas e os mesmos caminhos, precisamos ser mais ágeis. Não vamos lidar com a pandemia com soluções do passado”, explica.
Já Hugo Magonza, diretor geral do Centro de Educação Médica e Investigações Clínicas Norberto Quirno falou sobre a pandemia no contexto da Argentina, trazendo o cenário do país antes do vírus, as medidas adotadas durante a pandemia e as novas perspectivas. “No começo, tínhamos um desconhecimento da doença, falta de insumos, equipamentos, processos. Com a quarentena, tivemos uma queda no nível de atividades. No mês de abril, por exemplo, a queda na prestação de serviços de saúde foi de 80%”.
Magonza também trouxe as medidas tomadas para o combate à pandemia, incluindo protocolos, normas de proteção e segurança. Sobre as perspectivas, o palestrante falou da necessidade de conviver com a doença, telemedicina: “30% a 35% já estão estabilizados utilizando a video consulta e entendemos que para alguns pacientes é uma prática que veio para ficar” e o home office.
Futuro de modelos de remuneração baseados em valor
Com a curadoria do Instituto Coalizão Saúde (ICOS) e moderação de sua CEO Denise Eloi, o painel discutiu um tema frequente no setor de saúde que ficou ainda mais importante na pandemia: os modelos de remuneração baseados em valor. O painel também contou com a participação de Vanessa Teich, superintendente de Economia da Saúde do Albert Einstein, que colaborou com questionamentos durante o debate.
Fabricio Campolina, diretor sênior de transformação de saúde da J&J MD Latam, iniciou sua apresentação explicando um pouco sobre como funcionam esses modelos, seus benefícios e sua importância para a sustentabilidade do setor. “Os programas de redução de despesas são fundamentais para a sustentabilidade do sistema, focando na promoção de saúde e na redução de desperdícios”, acrescentou.
Em seguida Fred Van Eenennaam, presidente do Value-Based Health Care Center Europe, trouxe a experiência da Holanda com modelos de remuneração baseados em valor. O palestrante falou sobre a lógica do acordo de desfecho e como os provedores são recompensados e a importância dos dados para que a base desses pagamentos funcionem. De acordo com ele, com este modelo, já foram economizados pelo menos 1 bilhão de euros.
“O custo de saúde vai continuar aumentando, mas a pergunta é: quanto mais? Com o pagamento baseado em valor, conseguimos controlar esse crescimento de forma mais equilibrada. Foquem os pagamentos em valor em incidentes grandiosos, como diabetes e outras doenças crônicas. Todos ganham: a seguradora adia custos e deixa de gastar e o paciente recebe um atendimento melhor”, acrescentou.
Implementação de modelos de remuneração baseados em resultados em saúde
O painel seguinte deu continuidade à discussão anterior, sobre modelos de remuneração baseados em resultados em saúde e as melhores formas de implementação, com um debate bem dinâmico que contou a participação de nomes nacionais e internacionais, incluindo Ana Paula Etges, diretora de operações da Way2Value; Anne Geubelle (Bélgica), diretora de inovação da Way2Value e embaixadora do VBHC Center Europe para Data & – Portugal; e David Guerreiro (Portugal), consultor de Negócios da Way2Value e embaixador do VBHC Center Europe – Portugal.
A moderação do debate ficou por conta da diretora científica da Way2Value e embaixadora do VBHC Center Europe para o Brasil, Marcia Makdisse, e do presidente da UNIDAS, Anderson Mendes.
O painel trouxe um pouco do conceito de modelo de pagamento baseado em resultados em saúde, cases de sucesso de países como Estados Unidos, como implementar esse modelo e quais passos serão dados a partir desse cenário e como esse modelo faria sentido no setor de saúde do Brasil. “A informação para a gestão de saúde é fundamental. Não existe falar de Atenção Integral sem essa integração de dados, incluindo a integração com a Atenção Primária”, acrescentou Anderson falando sobre o que é preciso considerar para trabalhar com esse modelo.
Anne Geubelle falou sobre os desafios de tecnologia e integração do modelo. “Um dos desafios é a integração, não só dentro das instituições, como também entre o setor público e o setor privado. Mas o grande desafio está dentro da integração entre os sistemas dentro própria instituição. Ou seja, temos cada vez mais dados sobre os pacientes, mas todos esses dados são fragmentados dentro dos hospitais”, explicou.
Ana Paula Etges abordou os custos e a importância de metodologias para a transformação do sistema de saúde. “Quando olhamos a maioria dos modelos de aplicação de casos de valor, temos mais presentes programas de medição de desfechos, mas variável custo fica no segundo plano”, acrescentou.
Em seguida, David Guerreiro falou sobre as principais barreiras para a evolução nesses modelos. “A população precisa aderir e estar engajada com esses modelos, pois se elas não estiverem engajadas, é difícil nós termos os resultados que são preteridos”, acrescentou o palestrante reforçando a importância dos KPIS (Key Performance Indicator) estarem alinhados com a população, para que eles também vejam valor em saúde nesses modelos.
Saúde na era pós-digital: como será a transformação digital da saúde e da longevidade
Para fechar o segundo dia de evento, Leonardo Aguiar, cirurgião plástico e sócio-fundador da Laduo Cocreation of Health, falou sobre a saúde na era pós-digital. “A Covid acelerou a percepção de um mundo complexo, que muda o tempo inteiro, de um dia para o outro”, começou. “A transformação digital vai diminuir a assimetria de informações em toda cadeia de valor da saúde. Esse é o trabalho que o congresso e todos nós estamos fazendo, diminuindo essa assimetria de informações”.
Leonardo também levantou questões sobre o país estar preparado para o envelhecimento populacional e as multimorbidades e falou sobre a revolução digital que passará por médicos, produtos, serviços, processos, jornadas de saúde e pacientes.
Raphael Aguiar, pesquisador em saúde global no Dahdaleh Institute for Global Health Research, também esteve presente no painel abordando um pouco sobre o trabalho de pesquisa de sua instituição.