Mulheres com endometriose têm maior risco de infarto e AVC
Uma pesquisa, conduzida com dados de mais de 300 mil mulheres na Dinamarca, revelou que aquelas diagnosticadas com endometriose apresentam maior risco de desenvolver problemas cardiovasculares. O estudo, apresentado no congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC), indicou que a endometriose eleva em 35% a chance de infarto e em 20% o risco de acidente vascular cerebral (AVC).
A análise utilizou registros nacionais de mulheres diagnosticadas com endometriose entre 1977 e 2021. O sistema de saúde da Dinamarca, similar ao SUS brasileiro, organiza todos os prontuários e exames em um único banco de dados, facilitando o acompanhamento dos pacientes.
O estudo comparou os casos de uma mulher com endometriose com quatro mulheres sem a doença (grupo controle), tendo como média de idade 37,3 anos. Ao todo, foram examinadas 60.508 pacientes com endometriose e 242.032 sem o diagnóstico, com um acompanhamento médio de 16 anos.
“A associação entre a endometriose e os riscos aumentados para infarto e AVC não é uma novidade para a nossa especialidade, mas sem dúvidas os resultados robustos dessa pesquisa chamam muito mais atenção. O encaminhamento de pacientes com endometriose para cardiologistas ainda é pouco comum mas, a partir de agora, esperamos que esses achados promovam uma maior colaboração entre as duas especialidades, pensando sempre na saúde e qualidade de vida das mulheres”, comentou Marcos Maia, médico ginecologista especialista em Endometriose e Cirurgia Minimamente Invasiva. Ele acrescenta, ainda, que a pesquisa traz à tona uma possível necessidade de monitorar rotineiramente o risco de doenças cardíacas em pacientes com essa condição.
Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado um aumento significativo nos casos de endometriose, condição ginecológica que afeta a qualidade de vida de, pelo menos, 8 milhões de mulheres em todo o país. “E o impacto da endometriose na qualidade de vida das mulheres é inegável, considerando ser a principal causa de dor pélvica, infertilidade feminina e absenteísmo no trabalho”, explicou Marcos Maia.
Relação entre endometriose e problemas cardíacos
Ao avaliar o estudo dinamarquês, é preciso lembrar que as condições socioeconômicas da Dinamarca diferem das brasileiras, o que pode influenciar os resultados. Segundo Marcos Maia, fatores como estresse, má alimentação e sedentarismo, comuns no Brasil, agravam ainda mais o risco cardiovascular. Além disso, mulheres com endometriose sofrem com dores crônicas que dificultam a prática de exercícios físicos e comprometem a qualidade de vida, o que pode gerar mais estresse e impactar a saúde do coração.
Exames essenciais para o diagnóstico correto
O diagnóstico da endometriose pode ser feito por meio de exames clínicos e laboratoriais. O primeiro é uma avaliação ginecológica minuciosa, conduzida por um profissional especializado, onde o exame de toque vaginal avalia as condições da vagina, ovários, útero, trompas, dentre outros.
Quando há suspeita da doença, o médico tende a encaminhar a paciente para a coleta de exame de sangue CA 125, que serve para auxiliar no diagnóstico e também no seguimento da paciente, avaliar a quantidade de proteínas CA-125 na corrente sanguínea. Valores aumentados de CA-125 podem indicar a presença de endometriose, de acordo com o ginecologista Marcos Maia.
Por fim, exames de imagem auxiliam na precisão da doença. “Caso da ultrassonografia transvaginal para pesquisa de endometriose (não é o ultrassom transvaginal de rotina) que permite ao médico averiguar se há presença de lesões sugestivas à doença, e da ressonância magnética, um método eficaz para avaliar e diagnosticar a doença. Por meio de imagens de alta definição de todas as áreas e órgãos, este exame realiza o mapeamento profundo em locais não acessíveis ao ultrassom”, explicou o ginecologista.
Principais tratamentos para controle da doença
A endometriose não tem cura, mas os tratamentos reduzem os sintomas e melhoram a qualidade de vida da mulher. No Brasil, a abordagem pode incluir desde medicamentos para aliviar a dor até intervenções cirúrgicas minimamente invasivas para remover a doença.
“Há indicação para dois tipos principais de tratamento: o clínico, que visa inibir a ação do estrogênio, hormônio responsável pela proliferação celular que estimula o crescimento das células endometriais. E o tratamento cirúrgico, que pode ser feito com a ressecção das partes afetadas por laparoscopia ou robótica, que é realizada com precisão para minimizar danos aos tecidos”, explicou Marcos Maia.
Os principais objetivos são proporcionar alívio da dor, viabilizar a gravidez para mulheres que assim o desejam e evitar a recorrência da doença. Segundo o ginecologista, o tratamento pode envolver o uso de medicamentos, intervenções cirúrgicas, ou uma combinação de ambos.
Infelizmente, não há estudos conclusivos sobre a causa da endometriose, o que dificulta a definição de uma estratégia de prevenção da doença.
Também não há a confirmação de fatores de riscos, o que se sabe é que há algumas condições associadas como obesidade, faixa etária correspondente ao período fértil da mulher, mais comumente entre 30 e 40 anos, início precoce das menstruações, cirurgias uterinas como cesariana, remoção de mioma ou dilatação e curetagem, malformações uterinas, ciclos menstruais curtos, duração do fluxo menstrual aumentada e estenoses cervicais.