Ainda há estigma sobre doenças mentais? Compreender e avançar
As doenças mentais são prevalentes e afetam profundamente a vida das pessoas que delas padecem. O estigma a elas relacionado ainda é uma força poderosa de exclusão social. Em uma pesquisa feita em 2022, 80% de mais de 400 participantes de 45 países disseram que “o estigma e a discriminação podem ser piores do que o impacto da própria condição de saúde mental”. Em um momento no qual discute-se cada vez mais questões relacionadas às doenças mentais, constatar que o estigma ainda é muito impactante nos mostra quão necessária ainda é a discussão deste tema.
Esse é um problema persistente, alimentado por desinformação e preconceitos históricos, que se apresenta de diversas formas. As doenças psiquiátricas ainda são comumente associadas à fraqueza pessoal, de caráter e à falta de vontade, quando na verdade são condições médicas que demandam tratamento especializado. O estigma está presente na sociedade, na estrutura de saúde e nas crenças dos indivíduos que delas padecem. Vieses e distorções podem levar ao isolamento, à discriminação e dificultar, ou mesmo impedir, o acesso ao tratamento.
Para combater o estigma é essencial promover a educação e a conscientização. Pilares centrais a serem trabalhados são informar, com dados de fontes confiáveis, como os da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), para auxiliar na mudança de crenças distorcidas sobre as doenças mentais, promover o contato com pessoas que padecem de doenças psiquiátricas, para desmistificar estereótipos negativos, e fomentar a luta destas pessoas pelos seus direitos, a fim de melhorar a prestação de cuidados em saúde mental.
Criada em 20221, a Comissão da Lancet para Acabar com o Estigma e a Discriminação publicou em 2024 uma atualização4, na qual recomenda que as políticas nacionais de saúde mental estejam alinhadas aos acordos de direitos humanos, com foco na redução do estigma, o que já está no Plano de Ação Abrangente de Saúde Mental da OMS, que também se comprometeu a adicionar novos indicadores de estigma no seu Atlas de Saúde Mental, bem como criará um kit de ferramentas anti-estigma, para a implementação de programas. Outras ações são a descriminalização do suicídio, a promoção da saúde mental no ambiente de trabalho – tema da campanha Mundial do Outubro pela Saúde Mental de 2024, uma iniciativa apoiada pela Lundbeck desde 2015 -, o treinamento de profissionais de saúde sobre a redução do estigma, um chamado às organizações internacionais de mídia para emitir declarações, políticas e planos de ação sobre como podem contribuir para reduzir o estigma da saúde mental e o envolvimento ativo de pessoas com doenças mentais em todas as atividades anti-estigma.
Não há saúde sem saúde mental. Reduzir o estigma em torno das doenças mentais é essencial para a promoção do acesso aos cuidados de saúde. Compreender esta relevância e agir na busca de informações confiáveis e na elaboração e/ou apoio a campanhas anti-estigma em saúde mental são passos importantes para que possamos avançar nessa questão como sociedade.
*Juliana Bancovsky é médica psiquiatra.