Especialistas na rede pública de saúde: ampliar é preciso
Por Henrique de Barros Pinto Netto
Sete em cada dez brasileiros, ou mais de 150 milhões de pessoas, dependem exclusivamente do SUS (Sistema Único de Saúde) para tratamento, conforme dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde, divulgada no último ano, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com informações referentes à 2019. Inspirado no NHS britânico, (sigla em inglês do Sistema Nacional de Saúde), o SUS é um dos poucos da América Latina a funcionar com este modelo, que teoricamente permite o acesso de toda a população a um atendimento médico gratuito. Porém, não são poucas as regiões do Brasil que sofrem com a carência de especialistas.
Entre as especialidades com menor número de titulados está a Cirurgia da Mão. Segundo a Demografia Médica do Brasil 2020, feita pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e a USP (Universidade de São Paulo), o Brasil possui 923 médicos nessa área, o que corresponde a 0,2% do total de especialistas.
O cenário traz série de implicações. Deformidades, por exemplo, que poderiam ser satisfatoriamente corrigidas na infância, esbarram na escassez de especialistas e os portadores acabam desenvolvendo deficiências físicas definitivas na vida adulta, resultando, pelo expressivo número de casos, em uma enorme perda de força produtiva à nação e elevando custos institucionais de incentivo à inclusão social e de inserção no mercado de trabalho. Diante disso, em 2021, a Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM) voltou a atenção às mãos das crianças, concentrando suas ações no tratamento cirúrgico das deformidades congênitas e lesões traumáticas da mão pediátrica. Em uma força-tarefa para minimizar essa situação, realiza mutirões de cirurgias em diversas localidades do país onde, em função da carência de especialistas em Cirurgia da Mão na rede pública, boa parte ou quase a totalidade de casos de deformidades são encaminhadas para tratamento fora do estado de residência do paciente.
A questão também implica no acúmulo de centenas de casos cirúrgicos que deixam de ser tratados no seu momento ideal, resultando em sequelas de difícil solução.
As doenças tratadas pelo cirurgião da mão incluem uma infinidade de patologias, desde as doenças degenerativas, como artroses e tendinoses, até os diversos tipos de lesões traumáticas, como cortes, esmagamentos, queimaduras, amputações, entre outras. Grande parte dos atendimentos de ocorrências com esses membros, realizados em um pronto-socorro, são casos próprios para o cirurgião da mão, no entanto, são pouquíssimos os hospitais da rede pública que hoje têm esses profissionais ao seu alcance e um primeiro atendimento adequado, fundamental para um exitoso processo de recuperação funcional, laborativo e social do paciente.
A mão é um órgão mais sofisticado e completo, capaz de coordenar vários movimentos ao mesmo tempo, desde os mais delicados aos que que exigem força e pressão. Por toda a relevância, o tratamento de lesões requer conhecimento anatômico detalhado, técnica cirúrgica de alta precisão e, nesse sentido, a Cirurgia da Mão é uma especialidade completa, que exige constante atualização e que tem grandes desafios, como a expansão da área. Como entidade de classe, atuamos com centros de treinamento, cursos regionais anuais, entre outras ações para ampliação.
Que a especialidade possa ser cada vez mais difundida e reconhecida para que assim, o mercado que oferece diversas oportunidades de trabalho possa ser preenchido e a população brasileira possa dispor de mais profissionais aptos a atenderem às suas necessidades nessa área fundamental para a qualidade de vida.
*Henrique de Barros Pinto Netto, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM).