Moinhos de Vento e Ministério da Saúde lançam projeto para combate à sífilis
A capital gaúcha tem uma das maiores taxas de detecção de sífilis do Brasil. São 166 contaminados para cada grupo de 100 mil habitantes – o que representa mais do que o dobro da média nacional, que é de 75 casos. Porto Alegre também apresenta um dos maiores índices de sífilis congênita no país. Os números dessa infecção – que pode comprometer vários órgãos, entre eles o sistema nervoso central e até levar à morte – fizeram a cidade ser escolhida pelo Ministério da Saúde e pelo Hospital Moinhos de Vento para a implantação do Projeto SIM. A pesquisa, realizada pela instituição gaúcha por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), coletará informações e avaliará estratégias para enfrentar a epidemia da doença.
Para isso, os pesquisadores iniciaram a abordagem em um dos pontos de maior circulação de Porto Alegre: o Largo Glênio Peres. Uma unidade móvel funcionará diariamente, das 9h às 18h, onde serão realizados exames gratuitos para o diagnóstico de sífilis, HIV e hepatite para quem aceitar participar do estudo. O resultado sai na hora e as pessoas que testarem positivo para sífilis serão incluídas no protocolo de pesquisa e encaminhadas para monitoramento e tratamento, recebendo já a primeira dose no local. A estrutura, montada e um ônibus, também estará, ao longo do ano, em eventos como shows e jogos de futebol.
Três estratégias contra a epidemia
Os casos de sífilis, tanto congênita como adquirida, vêm aumentando progressivamente no Brasil nos últimos anos. De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, dados de notificação compulsória apontaram que as taxas da doença adquirida passaram de dois casos para cada 100 mil habitantes em 2010 para 42,5 casos em 2016, ano em que foi considerada epidemia pelo Ministério da Saúde.
Responsável Técnica pelo Projeto SIM, Eliana Márcia Da Ros Wendland explica que o aumento pode ser consequência de imprecisões na identificação de casos, pois a doença é assintomática em sua fase inicial. Ela também cita a descontinuidade do tratamento por parte dos pacientes. “Muitos recebem a primeira dose do antibiótico e não retornam para continuar a medicação e realizar novos testes. Sem sintomas, seguem contaminando outros indivíduos. A ideia é que o estudo aponte quais são as principais lacunas existentes no diagnóstico, tratamento e monitoramento, para que a possamos experimentar novas estratégias de controle”, ressalta a médica epidemiologista.
Os pacientes com resultado positivo para sífilis serão divididos em três grupos de acompanhamento: por aplicativo via celular, por contato telefônico e pelo protocolo atual, que é a indicação do tratamento com orientação de retorno para novas doses de medicação e monitoramento nas unidades de saúde. A ideia é identificar a eficácia desses métodos, especialmente em termos de logística e integração, e avaliar a viabilidade de implementação em outros estados e municípios.
Para o secretário da Saúde de Porto Alegre, Pablo Stürmer, a pesquisa na capital gaúcha deve ser potencializada, impactando diretamente nos serviços de saúde. “Através do estudo, é possível fornecer indicadores e balizadores que auxiliam o trabalho dos técnicos nas diversas áreas, possibilitando atendimento adequado e um tratamento baseado em evidências”, conclui.
A unidade móvel do Projeto SIM
Em uma área de ambientação no entorno da unidade móvel, a comunidade poderá buscar orientações por meio de material gráfico, vídeos e jingle. O espaço terá wi-fi gratuito. Uma das novidades será um aplicativo para celular com a primeira fase do jogo SIM, no qual os usuários recebem várias informações sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). “Temos de testar formas novas de estimular a adesão ao tratamento. O uso de jogos de celular é uma prática comum. Vamos tentar mobilizar os pacientes por meio dessa interação”, acrescenta Eliana.
Além das pessoas que serão incluídas na pesquisa, os pacientes com testes de HIV positivo serão orientados a buscar o sistema de saúde com carta de encaminhamento e exames solicitados.