Diretora da plataforma Rede de Saúde Global fala sobre parceria com a Fiocruz

A diretora da Rede de Saúde Global, Trudie Lang, esteve na Fiocruz na primeira semana de agosto para conhecer a instituição e apresentar o trabalho da TGHN (The Global Health Network), em busca de novas parcerias que possam fortalecer as pesquisas em saúde. Ela veio ao Brasil a convite da Rede Zika Ciências Sociais, que deve firmar a primeira parceria entre a Fiocruz e a plataforma. Em entrevista, Trudie, que também é professora de Saúde Global em Oxford, explicou melhor o trabalho e a proposta da rede. Confira e entrevista.


O que é a rede?
Trudie Lang: The Global Health Network é uma plataforma que trabalha para compartilhar conhecimento no campo de pesquisa em saúde. Ela compartilha conhecimento entre organizações de pesquisas, mas também com pessoas que estão fazendo as pesquisas na região, que estão na linha de frente, enfermeiras, médicos, farmacêuticos, fisioterapeutas. Então, o que fazemos é pegar a informação que os pesquisadores estão gerando e dar essa informação às pessoas que estão fazendo as pesquisas, tornando a pesquisa mais fácil, mais rápida e melhor.

Qual interesse de uma parceria com a Fiocruz?
Trudie Lang: The Global Health Network é uma organização jovem e existe há mais ou menos 7 anos. Nós estamos usando tecnologia digital, estamos usando o fenômeno do compartilhamento. Todos nós usamos a comunidade online para encontrar restaurantes, para consertar um carro ou fazer um bolo. Mas também organizações, de bancos à indústria espacial, usam o fenômeno do compartilhamento. Na pesquisa em saúde, ainda não fizemos isso ainda. Então, The Global Health Network é uma das primeiras organizações que tenta honrar essa cultura do compartilhamento que temos em todo mundo, mas fazendo-a funcionar para ciências da saúde. Somos jovens e novos, e usamos essa tecnologia e filosofia de pessoas jovens.

Já a Fiocruz possui uma maravilhosa e longa trajetória como organização, estamos falando de mais de cem anos, com uma vasta experiência em pesquisa, treinamento médico e pesquisa médica. Eu acho que podemos aprender com sua vasta experiência e com suas pesquisas daqui da Fiocruz e como vocês possuem, do ponto de vista da pesquisa, uma abordagem holística. E talvez vocês ganhem ao trabalhar em parceria com uma organização jovem e digital que está honrando a maneira que o progresso está sendo feito no mundo agora através do compartilhamento.

Então, está relacionado ao tema da ciência aberta?
Trudie Lang: É totalmente relacionado à ciência aberta. Mas uma diferença muito importante na abordagem que utilizamos é que grande parte da discussão até o momento na ciência aberta foi sobre o compartilhamento de dados, mas nosso ponto de vista é que é ótimo falar sobre compartilhamento de dados, mas precisamos permitir a pesquisa em primeiro lugar. Em muitos casos no mundo não existe ainda a capacidade de fazer pesquisas. Você precisa começar a pesquisa antes de poder gerar dados para compartilhar, certo? Então, a abordagem que estamos utilizando é dizer: as coisas que fazem as pesquisas difíceis são as mesmas, não importa se você está trabalhando em malária ou lepra ou zika. Então, se você puder compartilhar os métodos e o know-how, você pode começar a pesquisa. O que estamos falando sobre compartilhamento é como fazer pesquisa e torna-la mais fácil, mais rápida e melhor. E aí, você poderá compartilhar dados quando tiver dados para compartilhar.

E como foi sua visita à Fiocruz?
Trudie Lang: Foi uma visita incrível, fui muito bem tratada e tive reuniões com diversas áreas distintas da organização. E foi muito animador aprender como a Fiocruz pensa a pesquisa como um ecossistema, esta foi uma frase que ouvi muito aqui. Não é apenas sobre fazer um teste clínico ou fazer um trabalho em um laboratório, é sobre todo o espectro da pesquisa, de entender a população afetada, fazer trabalho epidemiológico, fazer a pesquisa e os testes clínicos, até descobrir a implementação da pesquisa nessa mesma população. É o ciclo holístico completo.

Eu também aprendi muito sobre termos a mesma filosofia, que é muito especial, na minha opinião. Concordamos que o próximo passo é a assinatura de um Memorando de Entendimento entre a TGHN e a Fiocruz, o que é muito animador, e a partir disso vamos definir alguns passos para começar. Um dos primeiros passos será criar uma área para a Fiocruz na TGHN e isso dará à Fiocruz um outro jeito de se engajar com comunidades diferentes das que vocês já estão conectados, com a comunidade de pesquisa de Saúde Global fora do Brasil e em diferentes lugares na África, na Índia, onde vocês poderão compartilhar suas capacidades com pesquisadores e pessoas que querem fazer pesquisa, especialmente em lugares que falam português, como Angola e Moçambique. Podemos ser um veículo para que vocês sejam uma voz e se engajem ainda mais nestes países.

A Fiocruz é essa organização de pesquisa incrível que fala português, e vai ser ótimo para vocês ter um mecanismo para promover um intercâmbio maior. Também pode ser uma plataforma em inglês. Então, parte do seu trabalho que no momento está em português pode ser compartilhado em inglês. Assim, mais pessoas poderão se beneficiar de seus resultados de pesquisas e seus métodos.

Seria uma via de duas mãos?
Trudie Lang: Sim, exatamente. Nós proporcionaríamos um novo caminho para engajar uma audiência mais ampla e diferente com seu trabalho, que aumentará o impacto da Fiocruz e amplificará o trabalho de vocês, de um modo diferente, usando uma nova abordagem.

E a zika deve ser uma das primeiras parcerias?
Trudie Lang: Zika é com certeza uma das primeiras. A zika é um grande exemplo de como vocês precisam desta abordagem. Com a zika, comparada até mesmo com o ebola, sabíamos muito pouco. Com o ebola, conhecíamos sobre o vírus, sabíamos que tínhamos alguns medicamentos e vacinas, mas era em um lugar onde é muito difícil fazer pesquisa. Mas com a zika, sabíamos muito pouco. Então, todas essas perguntas tinham que ser respondidas ao mesmo tempo.

A Fiocruz precisa compartilhar com o mundo como esse incrível processo de ciência aconteceu nesta instância e usar isso como um exemplo, de verdade. E como você precisa conectar todos esses elementos diferentes da pesquisa para ter todas as respostas que precisa.

(Entrevista originalmente publicada pela Agência Fiocruz de Notícias. Texto de Julia Dias / Foto de Peter Ilicciev)

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