Como a transformação digital pode ser a peça-chave para a melhoria da saúde
A FOLKS, empresa de consultoria em Saúde Digital, realizou a Digital Health Acceleration Week. O evento reuniu grandes nomes do setor da saúde para apresentarem e discutirem inovações e avanços no Brasil.
Luiz De Luca, engenheiro, conselheiro, advisor e mentor para instituições de saúde, analisou como é possível, por meio das healthtechs, fazer o funcionamento de um hospital crescer rapidamente neste campo o quanto antes. Usando como base o livro Blitzscaling: o caminho mais rápido para construir negócios extremamente valiosos, escrito por Reid Hoffman e Chris Yeh, ele mostra que a obra traz um conjunto de técnicas que auxiliam no crescimento mais acelerado, usando disso como uma vantagem competitiva. O conselheiro não deixou de alertar que o Brasil ainda é muito analógico e unitário na saúde: “Quando olhamos um hospital ou um prestador de serviços, o máximo que nós conseguimos pensar é como crescer em número de leitos ou em número de unidades para que possa abranger um segmento ou uma região maior. Esse modelo de 1 para 2 ou 1 para 10 não é uma escalabilidade em que se aplica o Blitzscaling”, definiu ele.
Crescer além das fronteiras comuns é uma diretriz quase que mandatória. De Luca trouxe ainda a questão de que no Brasil isso se realiza de maneira diferente, já que por aqui existe o pensamento de ser autossuficiente e pensar só para si próprio, o que atrapalha muito em seu desenvolvimento. Nos outros países, o pensamento é voltado para o mundo (além das fronteiras) e, com isso, contam com a área da saúde mais avançada. “Esse é o conceito do Blitzscaling, ou seja, como se preparar na sua organização para crescer no processo de pessoas. Nós não temos essa estrutura e ferramentas de como fazer esse crescimento. Temos uma dificuldade muito relacionada ao aspecto cultural das organizações no Brasil (principalmente na saúde) e que seja mais difícil perpetuar visões de crescimento como a Amazon possui, por exemplo.”
Como fazer para interligar e crescer? De Luca assegurou que o processo passa por dois passos, utilizando a metodologia Blitzscaling: o primeiro é conseguir olhar e pensar em mercados diferentes, buscar soluções mais velozes e adquirir um processo de empreendedorismo. O segundo é como saber criar um time de alta performance e fazer com que todos entrem no mesmo ritmo. Para o mentor, as visões tradicionalistas acabam também atrasando o progresso: “Nós temos uma visão muito conservadora de como nós podemos crescer, achando que aquisições seriam a única maneira para isso. Mas é possível fazer parcerias e modelos diferentes. Temos, no Brasil, uma dificuldade de compartilhar o poder”, definiu o conselheiro, complementando que é só com a tecnologia que tudo isso irá crescer e consequentemente será mais fácil buscar o “ouro da saúde”, expressão que De Luca utiliza para dados bem tratados.
Dificuldade também para as operadoras
Atentando ao fato de que as dificuldades passam também pelas operadoras, Evandro Garcia, diretor de soluções integradas em saúde da DASA mostrou que o grande desafio do segmento de saúde suplementar ainda é conectar a proposta de valor da sua oferta, ou seja, interligar os vários diferentes stakeholders (partes interessadas): “Ainda existe uma distância muito grande em como conectar esse consumidor com essa rede que é ofertada e, principalmente, como usar tecnologia a favor, para ter essa visibilidade integral do paciente e do consumidor de saúde nas várias esferas: primária, secundária e terciária”, explanou Evandro.
Evandro afirmou ainda que mesmo a DASA, sendo uma empresa de capital aberto e que tem um enorme volume de dados gerados pelos seus diagnósticos, pela sua rede de hospitais e uma capacidade de fazer saúde populacional por meio dos ativos, também existem dificuldades para realizar essa integração. Ainda assim, o diretor de soluções integradas afirmou que é essa digitalização que entrega uma integração muito melhor, o que o torna bastante otimista: “Estamos bastante tranquilos, porque a estratégia está bem montada. Sabemos das dificuldades, mas a DASA tem um desafio estratégico gigantesco, que é suportar essas transformações por todas as nossas soluções”, concluiu.
Momentos diferentes exigem atitudes diferentes
Com um ponto de vista mais gerencial, Francisco Balestrin falou sobre os executivos digitais. O presidente do CBEXs (Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde) e do SindHosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo) contou que, para o bem do setor, essa transformação deve ser feita o quanto antes, já que o período é diferente de alguns anos atrás e permite que exista essa modernização: “Era impossível antes pensar em fazer as reformulações todas dentro da instituição sem que junto disso reformulasse também a cabeça dos gestores e daqueles que, de alguma forma, fossem trabalhar dentro dessas instituições”, argumentou ele, citando ainda que essa renovação consegue transformar também as instituições em instituições de pesquisa, já que tudo o que é feito dentro dessa entidade acaba por produzir dados e informações que podem ser capturados, para serem usados em pesquisas técnicas, científicas ou operacionais.
Balestrin lembrou ainda que, além da modernização, a transformação digital também traz competências para empoderar os profissionais de saúde e acabam agregando positivamente outros profissionais dentro do setor, como por exemplo, a entrada de engenheiros para dentro da instituição médica: “Acaba trazendo um desenho com muito mais possibilidades de pessoas focadas no cuidado assistencial que, com certeza, fará aumentar aquilo que todos nós, que somos gestores de saúde, pensamos: melhorar o acesso e a qualidade assistencial”, finalizou.