Como novos diagnósticos evitam o uso inadequado de antibióticos
Por Allan Munford
Silenciosa e crescente, a resistência antimicrobiana já é considerada uma das maiores ameaças globais à saúde pública. Segundo um estudo do Projeto Global Research on Antimicrobial Resistance (GRAM), publicado na revista científica The Lancet, são estimadas mais de 39 milhões de mortes por infecções resistentes a antibióticos até 2050 em todo o mundo. E grande parte desse cenário alarmante tem origem em um hábito comum e, muitas vezes, negligenciado: o uso indiscriminado de antibióticos.
A automedicação, a prescrição sem diagnóstico preciso e a interrupção precoce do tratamento contribuem diretamente para o fortalecimento de bactérias que aprendem a resistir às drogas – também conhecidas como superbactérias -, exigindo antibióticos cada vez mais potentes e menos eficazes. Como resultado, temos observado infecções cada vez mais difíceis de tratar, maior risco de complicações e internações prolongadas, com impacto significativo sobre pacientes, profissionais de saúde e sistemas hospitalares.
Durante o inverno, esse problema se agrava e se torna ainda mais evidente. O aumento das infecções respiratórias, impulsionado pelas temperaturas mais baixas e o clima mais seco, leva muitas pessoas a buscar alívio rápido para sintomas como tosse, febre e mal-estar. Em 2025, o Brasil já registrou mais de 83 mil casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), de acordo com a Fiocruz, com quase metade dos quadros ocasionado por algum vírus respiratório. E isso nos leva a concluir que, na maioria das vezes, o uso de antibióticos não apenas é ineficaz, como prejudicial.
Combate à resistência
A boa notícia é que já existem ferramentas capazes de mudar esse cenário. Os testes sindrômicos, baseados na tecnologia de PCR em tempo real, por exemplo, permitem diferenciar infecções causadas por vírus, bactérias ou fungos — e indicam quando há coinfecção por múltiplos agentes. Esses exames são concluídos em cerca de uma hora e oferecem uma base sólida para a conduta clínica adequada.
De forma prática, esse tipo de diagnóstico permite que em vez de receitar antibióticos de forma empírica — prática comum diante da pressão por atendimento rápido —, os profissionais de saúde passem a contar com um diagnóstico preciso, que orienta o tratamento mais eficaz.
Quando o agente causador é viral, salve exceções, os antibióticos não devem ser usados. Já em casos bacterianos, o uso precoce do medicamento correto pode evitar complicações graves, reduzir o tempo de recuperação e salvar vidas. A precisão diagnóstica, portanto, é uma ferramenta essencial na administração racional de antibióticos.
Educar, testar e tratar
Mais do que soluções tecnológicas, as inovações diagnósticas representam uma mudança de paradigma. Promovem um modelo de cuidado baseado em evidência, que respeita as especificidades de cada paciente e evita generalizações perigosas. No longo prazo, essa abordagem reduz custos, melhora a experiência dos pacientes e fortalece a eficácia dos tratamentos disponíveis.
Mas essa transformação só será completa com educação e conscientização. É preciso reforçar, de forma contínua, a importância de não interromper tratamentos antes do tempo, de evitar a automedicação e de buscar sempre orientação médica. A resistência microbiana é uma ameaça real; e enfrentá-la exige ação coletiva.
*Allan Munford é gerente regional LATAM de Marketing da QIAGEN.