Redução de desperdícios na saúde é desafio e precisa ser prioridade
Por Marcelo Carnielo
Temos um ano praticamente inteiro pela frente e, com ele, diversos desafios em uma das áreas mais vitais: a saúde. O fato é que velhos problemas persistem, como os desperdícios no setor.
Se considerarmos dados de uma reportagem veiculada por um jornal de circulação nacional, em 26 de fevereiro, intitulada “Programa do Einstein detecta que 22% das cirurgias de endometriose são desnecessárias”, e a qual cita um estudo publicado no BMJ Open Quality, que indicou que 13% das cirurgias de vesículas feitas não tinham necessidade, um outro levantamento mostra o alto custo que isso despendeu, desnecessariamente.
Segundo a plataforma DRG Brasil, em 2023 a permanência média de pacientes que foram submetidos ao procedimento cirúrgico de colecistectomia (remoção da vesícula), em 47.755 altas válidas, foi de 1,9 dias. As condições adquiridas nesta amostra foram de 2,68%, destas, 0,61% graves.
A base do DATASUS em 2023, por meio de AIH (Autorização de Internação Hospitalar) aprovadas, informa que foram realizadas 301.771 cirurgias de colecistectomia pelo SUS (Sistema Único de Saúde), portanto, se consideramos 1,9 dias de permanência, estes pacientes consumiram 573.364 dias de leito ou 18.860 leitos de internação.
Se considerarmos que 13% das cirurgias de vesículas são desnecessárias, podemos concluir que 2.451 leitos foram consumidos em 2023 desnecessariamente, equivalente a um hospital de 205 leitos, aproximadamente.
Na perspectiva econômica do prestador de serviço hospitalar, conforme banco de dados da Planisa, analisando custo de 2.513 pacientes que foram submetidos a cirurgia de colecistectomia em 2023, o custo mediano por cirurgia foi de R$ 3.125. Se considerar que 13% destas cirurgias foram desnecessárias, conclui-se que poderiam ter sido economizados – só com cirurgias de retiradas de vesículas – aproximadamente R$ 122,5 milhões.
Um sistema de saúde baseado em valor, com o paciente no centro do cuidado, é melhor para todos: reduz os custos assistenciais, diminui os riscos e disponibiliza recursos – que são escassos – para quem realmente precisa.
Muito além de demonstrar as oportunidades de economia hospitalar, esse artigo propõe uma reflexão conjunta com todos os players da saúde, com o propósito de avaliar propostas e alternativas para uma verdadeira transformação da saúde baseada em informação de qualidade e assistência focada no paciente.
*Marcelo Carnielo é especialista em gestão de custos hospitalares e diretor de Serviços da Planisa.