Demografia Médica no Brasil: reflexões do setor privado
Por Sérgio Okamoto
O estudo “Demografia Médica no Brasil 2025”, lançado da parceria entre a Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e o Ministério da Saúde, revelou um panorama atual sobre a realidade da medicina no país.
Por um lado, os números mostram um crescimento expressivo no total de profissionais médicos. Por outro, o relatório aponta para desafios estruturais que exigem reflexão, especialmente pelo setor privado de saúde. A formação de especialistas ainda é insuficiente frente à demanda e à complexidade crescentes dos serviços.
O número de profissionais médicos dobrou entre 2010 e 2024, eram 304 mil, hoje são mais de 635 mil. Se manter o ritmo, serão mais de 1,15 milhão de médicos em 10 anos. Nesse panorama, pela primeira vez, o Brasil tem mais mulheres em atividade, sendo 50,9%.
Apesar do crescimento vertiginoso, a taxa de 2,98 médicos por mil habitantes está abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 3,70. O Brasil ocupa a 33ª posição em densidade médica, dentre os 47 países estudados. O número de recursos humanos ainda é insuficiente para atender a demanda e a complexidade. Sobretudo se considerarmos que a distribuição no território nacional é bastante desigual, com a maioria dos especialistas atuando no Sudeste.
Investir em saúde, em um país com tantas adversidades, é também investir em equidade, produtividade e, consequentemente, no futuro. Esse representa um compromisso que deve ser assumido por todos os atores que compõem o ecossistema no Brasil.
Especialidades
Dentre as 55 especialidades regulamentadas pela lei brasileira, algumas delas concentram 50,6% do total de especialistas, são elas: Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, Anestesiologia, Cardiologia e Ortopedia e Traumatologia.
As principais cirurgias realizadas no Brasil são: apendicectomia, colecistectomia e correção de hérnias abdominais. Apesar do Sistema Único de Saúde (SUS) concentrar o maior número de procedimentos no geral, essas foram mais comuns na saúde suplementar. Isso reforça a importância de ampliar o acesso e o investimento em parcerias estratégicas. Até é relevante notar que 70% dos cirurgiões atuam em ambos os setores (público e privado), poucos trabalham com exclusividade.
Em qualquer cenário, a valorização e remuneração adequadas da prática médica é indispensável para atrair e reter profissionais, e mais ainda para fornecer serviço de qualidade à população. O setor privado tem um papel fundamental nos desafios da área e deve se planejar para ampliar a oferta de serviços, contribuir com a formação de profissionais, se atualizar e inovar, trabalhar com sustentabilidade, previsibilidade e estrutura adequada.
A saúde e o futuro da população estão em nossas mãos. A medicina é vital para a qualidade de vida das pessoas, tanto que a expectativa de vida das pessoas tem aumentado cada vez mais. Devemos manter o ritmo e termos em mente que apesar de as instituições de saúde serem negócios, elas também têm como objetivo sempre aprimorar a qualidade assistencial para o paciente, no final das contas, é para ele que trabalhamos.
*Sérgio Okamoto é médico especialista em Saúde Ocupacional e Superintendente Geral do Hospital Nipo-Brasileiro.