Escalar com propósito: o desafio da democratização da saúde

Por Beatriz Brisotti

A desigualdade social que enfrentamos no Brasil e no mundo não se mede apenas pela renda, mas também pelo acesso a direitos básicos. Um levantamento recente da Oxfam mostrou que a fortuna do 1% mais rico do planeta cresceu tanto nos últimos dez anos que seria suficiente para acabar com a pobreza global 22 vezes. Enquanto isso, 3,7 bilhões de pessoas vivem com menos de R$ 45 por dia. Essa diferença tem efeitos diretos na saúde pública: segundo as Nações Unidas, pessoas em situação de pobreza têm três vezes mais chances de desenvolver transtornos mentais, como ansiedade e depressão.

É nesse cenário que se torna urgente falar sobre o que significa, na prática, democratizar o acesso à saúde. Falar em “acesso” é mais do que garantir vagas ou consultas, é reconhecer que ainda há milhões de brasileiros que não conseguem marcar uma consulta médica quando precisam, que enfrentam filas, distâncias e custos que os impedem de cuidar da própria saúde com dignidade.

Acredito ser possível escalar serviços de saúde com eficiência e, ao mesmo tempo, manter o compromisso com o acolhimento humano. Modelos de expansão que colocam o cuidado no centro das decisões levam em consideração que crescer com propósito é mais do que abrir novas unidades do negócio: é garantir que, por trás de cada número, exista um olhar atento para as pessoas, suas histórias e necessidades reais. Escalar com propósito, nesse contexto, significa não perder de vista o impacto social gerado e a responsabilidade envolvida em cada novo passo.

Na área da saúde, tecnologia e dados são instrumentos poderosos para tornar o cuidado mais eficiente, mas não suficientes por si só. Eles ajudam a chegar mais longe, a otimizar a jornada do paciente, a criar soluções como bots de atendimento e sistemas integrados. Mas nada disso substitui a escuta, o olhar atento, o acolhimento. Por isso, essas ferramentas são suportes, nunca substituição ao contato humano.

Próximos ao Brasil real

O Brasil real vai muito além das capitais e grandes centros urbanos. Em pequenos municípios, muitas vezes, está concentrada a maior demanda por atendimento básico e o menor acesso a serviços essenciais. Interiorizar a saúde, portanto, não deve ser apenas uma decisão de mercado, mas um compromisso com a equidade. Levar estrutura e cuidado para essas regiões é um ato concreto de responsabilidade social e uma forma de combater desigualdades históricas que ainda impedem milhões de brasileiros de exercer plenamente seu direito à saúde.

Mas garantir que essa expansão preserve a qualidade exige esforço constante. É preciso criar padrões, investir em formação, monitorar indicadores e, acima de tudo, cultivar uma cultura organizacional que valorize o cuidado. Cuidar de quem cuida é necessário porque somente assim é possível manter uma rede coerente com o propósito da democratização.

Falar em democratizar a saúde, portanto, é falar em compromisso com a equidade. É reconhecer as desigualdades e, a partir delas, construir caminhos viáveis e sustentáveis para ampliar o cuidado. Não é simples, mas é possível, e é necessário.

Nos próximos anos, será essencial apostar em soluções que ampliem o acesso à saúde com responsabilidade e visão de longo prazo. Isso inclui a expansão de serviços complementares, como odontologia preventiva, exames diagnósticos e procedimentos ambulatoriais, além do fortalecimento de formatos como a telemedicina, que rompe barreiras geográficas e torna o cuidado mais acessível. O uso de inteligência artificial como suporte clínico também deve avançar, desde que venha acompanhado de um compromisso inegociável com a escuta, a empatia e a humanização do atendimento.

Porque, no fim das contas, escalar com propósito é lembrar todos os dias por que, e por quem, fazemos o que fazemos. A saúde não pode ser um privilégio, precisa ser um direito efetivo.


*Beatriz Brisotti é diretora de Operações do AmorSaúde.

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