Demência torna difícil detectar a dor em residentes de lares de idosos

Por Rubens de Fraga Júnior

Uma ferramenta de avaliação pode tornar mais fácil para os profissionais de saúde identificarem a dor em residentes com demência. O tratamento certo pode melhorar a qualidade de vida. Sabemos muito pouco sobre a incidência de dor em lares de idosos.

A Noruega não possui um requisito em vigor para que a dor seja avaliada antes ou durante a admissão no lar de idosos, nem depois que uma pessoa foi admitida. Em alguns países, a ausência de dor é vista como um indicador da qualidade do cuidado e do tratamento que a casa de saúde está oferecendo aos seus residentes.

Avaliar se ou onde e em que medida, um residente está com dor pode ser especialmente desafiador entre os idosos com demência. Os indivíduos com demência grave costumam ter dificuldade em se expressar verbalmente sobre sua condição.

Em vez disso, enfermeiros e profissionais de saúde precisam observar o residente e procurar sinais de dor. Esses sinais podem incluir sons dolorosos, expressões faciais como fazer caretas ou a reação do residente tentando evitar o toque e o movimento.

Uma pesquisa realizada no país escandinavo, coordenada pela professora Anne-Sofie Helvik, desenvolveu uma ferramenta de avaliação da dor baseada na observação que pode ser usada para todos os estágios da demência. Usando essa ferramenta, foi possível estudar a incidência e a gravidade da dor entre os idosos com demência internados em lares de idosos noruegueses.

Foi descoberto que 36 por cento dos quase mil (953) idosos com demência examinados após a hospitalização tinham dores que afetavam fundamentalmente sua vida cotidiana. Em outras palavras, a incidência de dor é alta. Tanto os residentes que já faziam uso de analgésicos quanto os que não sentiam dores dessa natureza. Cerca de metade de todos os residentes tomavam um ou mais tipos de analgésicos.

Outras terapias não farmacológicas para o alívio da dor, como terapia cognitivo-comportamental, exercícios, massagem, alívio da pressão e musicoterapia ambiental, não foram investigadas neste estudo.

A dor afeta negativamente a qualidade de vida dos residentes e a dor intensa pode reduzi-la ainda mais. A falta de tratamento para a dor pode levar à agressividade e inquietação, mas também à apatia, distúrbios de humor e muito mais.

A detecção da dor em residentes com demência serve como um primeiro passo necessário para determinar a medicação apropriada ou terapias não medicamentosas para a dor. Essas medidas aumentarão a qualidade do atendimento e do tratamento e, por sua vez, melhorarão a qualidade de vida dos residentes em casas de repouso.

A avaliação regular da dor em residentes deve ser considerada um requisito para o funcionamento de lares de idosos e uma parte integrante da avaliação de qualidade.

O uso de uma ferramenta de avaliação baseada na observação de sinais de dor em pessoas com demência moderada e grave é oportuna. Essa ferramenta oferece aos profissionais de saúde uma base melhor para fornecer terapias farmacológicas e não farmacológicas para a dor.

O tratamento da dor em idosos com demência é desafiador, e a primeira escolha deve ser o tratamento não farmacológico, possivelmente associado a analgésicos.

A introdução de avaliação regular da dor e protocolos de tratamento, bem como revisões de medicamentos que lançam luz sobre a dor e as medidas de redução da dor para esse grupo de idosos, é importante para reduzir a incidência e a intensidade da dor nos residentes. Avaliar e tratar esse grupo populacional exige competência, recursos e continuidade no cuidado e tratamento.

Fonte: Anne-Sofie Helvik et al, Pain in nursing home residents with dementia and its association to quality of life, Aging & Mental Health (2021). DOI: 10.1080/13607863.2021.1947968


*Rubens de Fraga Júnior é professor titular da disciplina de gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná. Médico especialista em geriatria e gerontologia pela SBGG.

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