Diversidade, equidade e inclusão como pilares do cuidado
Por Marcelo Ferretti
Em um setor tão desafiador como o da saúde, a promoção de diversidade, equidade e inclusão (DEI) surge não apenas como um problema ético, mas como uma forma capital de melhorar trabalho das equipes multidisciplinares. Gestores que priorizam esses valores criam condições para que seja exercida uma verdadeira prática de cuidado. As singularidades de cada indivíduo podem ser acolhidas, o que promove melhores condições de trabalho, uma maior integração das equipes e um atendimento mais humanizado e eficaz aos pacientes.
A diversidade nas equipes de saúde vai além de uma mera representatividade. Quando se promove o trabalho entre sujeitos diversos, no que diz respeito aos aspectos racial, sexual, de gênero, étnico e socioeconômico – essa é, afinal, a composição da população brasileira –, amplia-se a capacidade de compreensão das necessidades dos pacientes. Uma vez que saúde para eles se relaciona com o que sonham para as suas vidas e que o espaço que se cria entre eles e o profissionais da saúde é aquele em que são apresentados projetos de vida e de mundo, essa capacidade de compreensão se mostra crucial.
Entretanto, a implementação de políticas de DEI enfrenta desafios significativos. Estudos mostram que, apesar de muitas organizações e instituições considerarem a pauta estratégica, ela está longe de ocupar o topo das prioridades efetivas de gestão de pessoas. Além disso, dentre aquelas que consideram a pauta estratégica, quase metade admite que conhece pouco sobre as formas de implementar e encaminhar a pauta. Por fim, não se pode deixar de lembrar dos retrocessos que essas políticas vêm enfrentando em muitas organizações há pelo menos dois anos.
De todo modo, esses desafios parecem trazer ensinamentos valiosos a respeito da condição de possibilidade de implementação da pauta. Eles mostram que o verdadeiro motor não deve ser a pressão social, a força da lei ou a conveniência, que levam lideranças a agirem de forma apressada, sem que haja qualquer estruturação das etapas de implementação das políticas. A pauta deve ser abraçada por convicção, porque leva à elaboração de estratégias melhores, torna as equipes mais eficazes e promove, por fim, justiça social.
A atuação dos gestores é determinante para a efetivação dessa convicção, mas eles devem ser orientados por dados centrados sobre DEI a respeito do perfil das equipes atuantes no setor. Pois a implementação e o encaminhamento da pauta devem estar firmemente embasados. Eles devem se vincular aos valores fundamentais da organização, os quais, por sua vez, devem ser efetivamente percebidos em cada canto dela, e não apenas objeto de crença.
O último relatório do projeto Diálogo sobre Políticas para Resiliência e Bem-Estar dos Profissionais de Saúde, produzido pelo Synergos Brasil em parceria com a FGVsaúde e com o apoio da J&J Foundation, traz essa reflexão, dedicando um capítulo inteiro à diversidade, equidade e inclusão dentro desse contexto. A integração de políticas de DEI, alinhadas à promoção da saúde, não é apenas uma forma de garantir melhores condições de trabalho, mas também uma oportunidade de construir um sistema propício ao exercício do cuidado, eficiente e preparado para enfrentar os desafios contemporâneos. É inadiável que os gestores olhem para a diversidade como uma dimensão essencial para o futuro do setor de saúde. Afinal, cuidar de quem cuida é uma responsabilidade que não pode ser negligenciada.
*Marcelo Ferretti é Professor de Psicologia e Ética da FGV-EAESP.