Definição de dor é atualizada pela primeira vez em quatro décadas

Por Rubens de Fraga Júnior

Os especialistas em dor da Johns Hopkins Medicine se juntaram à Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) e a colaboradores em todo o mundo para fazer uma atualização sutil, mas importante, da definição de dor pela primeira vez em 40 anos. Com essa mudança, os especialistas pretendem tornar o diagnóstico e o tratamento da dor mais inclusivos para todas as pessoas que a vivenciam.

A definição revisada foi publicada na edição de setembro de 2020 da revista Pain.

“A dor não é apenas uma sensação ou sintoma. É uma condição muito mais complexa que é importante reconhecer adequadamente para orientar a pesquisa científica básica, o atendimento ao paciente e as políticas públicas”, disse Srinivasa Raja, MBBS, professor de anestesiologia e medicina intensiva na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e presidente da força-tarefa da IASP que criou a descrição revisada.

De acordo com os pesquisadores, a nova definição de dor – a primeira atualização desde 1979 – apresenta uma frase-chave: “Uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a, ou semelhante àquela associada a, dano real ou potencial ao tecido.”

A frase é importante, dizem os pesquisadores, porque inclui tipos de dor não bem compreendidos há 40 anos, como a nociplástica – onde os receptores de dor são estimulados sem evidência da causa, como na fibromialgia – e a dor neuropática, causada por um paciente sensibilizado ou sistema nervoso desadaptativo, comumente associado a condições de dor crônica, como dores persistentes após cirurgia, lesões nervosas e amputações de membros (comumente chamadas de “dor de membro fantasma”).

A definição revisada também inclui mais pessoas que não conseguem expressar sua dor em palavras. De acordo com Raja, a definição anterior usava a palavra “descrito”, que exclui comportamentos não-verbais para indicar dor em animais e certos indivíduos vulneráveis.

“Mudar essa linguagem permite que os médicos contabilizem adequadamente a dor em populações carentes e negligenciadas, como idosos e pessoas com deficiência”, diz ele.

A definição atualizada pode, em última análise, ter um impacto sobre o acesso aos cuidados de saúde, se adotada pelas seguradoras. Uma pesquisa de 2016 dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA estima que 20,4% dos adultos dos EUA vivem com dor crônica e cerca de 20 milhões relataram que a dor limita a capacidade de realizar tarefas em seu trabalho e na vida diária.

“Quando a dor afeta a função, a psique e o bem-estar social das pessoas, ela precisa ser reconhecida pelas seguradoras que ditam quem recebe os cuidados e quais aspectos de seus cuidados multidisciplinares são reembolsados”, diz Raja.

No geral, a força-tarefa da IASP diz que a definição revisada forneceu um ponto de partida para integrar o gerenciamento holístico e mais baseado em evidências da dor aos cuidados médicos e de saúde mental.

“A dor não pode ser simplificada em uma escala de 0 a 10. As avaliações precisam olhar para a pessoa como um todo, levando em consideração os fatores cognitivos, psicológicos e sociais que são essenciais para o tratamento da dor”, diz Raja.


*Rubens de Fraga Júnior é Especialista em geriatria e gerontologia. Professor titular da disciplina de gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná.

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