Aumento de custos com saúde mostra necessidade de novo modelo para o setor
Por André Machado
O movimento de retomada das consultas, cirurgias eletivas, terapia, exames e demais procedimentos que ficaram “represados” durante a crise da Covid-19, deu novo impulso a um movimento que já vinha ocorrendo no País há anos. Os custos da oferta de serviços em saúde – seja pelas operadoras de saúde suplementar, seja por empresas a seus funcionários – crescem ano após ano, movimento impactado também pela chamada ‘inflação na saúde’.
Resultado: as operadoras de planos de saúde individuais e familiares foram autorizadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a aplicar reajustes de 15,5% nas mensalidades. O maior reajuste até então havia sido de 13,57%, em 2016. No caso das empresas com contratos coletivos, empresariais ou por adesão, o aumento pode ser maior, considerando que a negociação é livre e há registros de reajustes superiores a 25%.
Em paralelo à alta dos custos, há um agravante: a cultura de desperdício na saúde. Ela está consolidada pelo funcionamento do sistema e pelo modo de utilização dos serviços de saúde, com comportamentos aparentemente inofensivos, mas bastante danosos, como a repetição de exames de forma desnecessária, a utilização desmedida de recursos e idas excessivas ao pronto-socorro. Esse modus operandi causa um desperdício estimado em mais de R$ 40 bilhões, que interfere ativamente na segurança dos pacientes e no custo do serviço.
Portanto, o maior desafio do setor de saúde atualmente é modificar o seu modelo de atuação para continuar viável. A mudança de foco, atuando intensamente na atenção primária à saúde e com um olhar direcionado ao cuidado integral dos pacientes, é a fonte da sustentabilidade. O modelo atual não centra foco na promoção à saúde e na prevenção de doenças – em vez disso, busca remediar problemas já ocorridos.
A pauta é urgente, mas não há milagres. A saída mais adequada é um tanto complexa e não oferece resultados imediatos. Mas o fundamental a considerar: a mudança é necessária e urgente, podendo assegurar a longevidade de um sistema indispensável.
Há necessidade de mudar o modelo adotado, com foco na Atenção Primária em Saúde (APS), maior atenção à prevenção e até remuneração atrelada a resultados. Experiências de outros países mostram que o modelo possibilita reduzir de forma significativa o custo assistencial, garantindo ainda a melhora da qualidade do serviço. Há muito a fazer – e por certo essa é uma mudança que exige tempo. Mas toda jornada começa pela decisão de mudar e pelos primeiros passos. Rever conceitos, ousar pensar diferente e implementar mudanças pode ser vital para que as pessoas possam continuar usufruindo desse benefício essencial de forma sustentável. Isso é ser incansável por uma saúde melhor.
*André Machado é CEO da AsQ.