Cultura de segurança: melhoria constante para as instituições
Por Camilla Covello
Em um cenário, em que os cuidados de saúde estão se tornando cada vez mais complexos, a segurança do paciente e das pessoas envolvidas se destaca como um pilar fundamental para garantir a qualidade e a integridade dos serviços prestados. O aumento da complexidade nos processos de atendimento eleva o risco de incidentes. É nesse contexto que a cultura de segurança ganha relevância, visto que um ambiente comprometido com a segurança impacta diretamente no comportamento dos profissionais e os resultados obtidos, tanto para os pacientes quanto para a própria instituição.
Mas o que significa, de fato, uma “cultura de segurança”?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cultura de segurança é um conjunto de crenças compartilhadas que sustentam práticas seguras dentro das instituições. Trata-se de uma mentalidade coletiva que valoriza a comunicação aberta, o trabalho em equipe, o reconhecimento da interdependência entre os profissionais e o aprendizado contínuo com base em relatos de eventos. Acima de tudo, coloca a segurança como prioridade em todos os níveis organizacionais.
A cultura de segurança não existe de forma isolada: ela está profundamente conectada à cultura organizacional. E é aqui que o papel do líder se torna crucial: seu comportamento serve como modelo para os colaboradores, influenciando diretamente a forma como a segurança é percebida e praticada dentro da organização. Uma cultura sólida organiza e orienta a maneira como as coisas são feitas, criando pressupostos que, embora nem sempre explícitos, permeiam todos os níveis da instituição.
Esses pressupostos culturais se manifestam em três níveis distintos. Primeiro, temos os artefatos que são as coisas concretas que os colaboradores ouvem, veem e sentem no ambiente de trabalho. Em segundo, são os valores compartilhados que motivam as ações diárias dos profissionais. E, por fim, temos os pressupostos básicos que englobam as crenças, percepções e sentimentos mais profundos dos colaboradores.
Ao falarmos sobre a cultura de segurança, é importante reconhecer que existem níveis de maturidade, abrangendo desde a segurança dos funcionários, coleta de dados e a segurança dos pacientes. O nível mais avançado desse processo ocorre quando todos os níveis da organização compartilham um objetivo comum: promover a segurança.
Dentro dessa cultura de segurança, existem quatro pilares essenciais que a sustentam:
- Cultura de Notificação: Encorajar a transparência e o relato de erros ou quase acidentes, garantindo que as informações sejam utilizadas para prevenir futuros incidentes.
- Cultura Justa: Promover a responsabilização adequada sem recorrer à culpabilização, criando um ambiente onde os erros são vistos como oportunidades de aprendizado e, não, como falhas individuais.
- Cultura Flexível: A capacidade da organização de se adaptar e reconfigurar diante de perigos ou incidentes, mantendo a segurança como prioridade.
- Cultura de Aprendizagem: Fomentar o aprendizado contínuo, não apenas a partir dos erros, mas também a partir das práticas bem-sucedidas, garantindo a evolução constante da cultura de segurança.
Trabalhar esses pilares de forma integrada fortalece e sustenta a cultura de segurança, criando um ambiente onde a proteção das pessoas não é apenas uma meta, mas uma prática diária.
Medir a cultura de segurança do paciente nos serviços de saúde é fundamental. Essa medição permite diagnosticar e prevenir potenciais riscos, possibilita o benchmarking interno e externo, implementar intervenções de segurança eficazes e acompanhar a evolução ao longo do tempo. Ao medir e monitorar continuamente essa cultura, as instituições não apenas previnem incidentes, mas também garantem a eficácia e a sustentabilidade das melhorias implementadas.
Assim, construir e fortalecer uma cultura de segurança dentro das organizações de saúde não é apenas uma questão de evitar erros: trata-se de criar um ambiente onde a segurança e a excelência caminham juntas, promovendo um cuidado de saúde mais seguro e eficaz para todos.
*Camilla Covello é sócia e CGO da QGA – Quality Global Alliance.