Covid: 700 mil mortes e sem vacina

Por Antonio Carlos Lopes

Demos a largada para o tão aguardado 2023. O ano começa sob a égide da esperança. A sociedade enxerga luz no fim do túnel e, todos esperamos, que dias melhores realmente venham por aí. Que promessas saiam do abstrato dos discursos para o concreto das realizações.

Importante é que, mais do que nunca, estamos fechados com a democracia e o estado de direito. Só a partir da garantia dos direitos individuais e coletivos, teremos alicerce sólido para reconstruir (ou construir) um país digno, de cidadania respeitada e consagrada. Apenas trilhando esse caminho, chegaremos a um Brasil com educação, moradia, alimentação, escola emprego, renda e saúde para todos.

Porém, uma coisa são expectativas e sonhos. Outra é a realidade. Hoje, quem depende do Sistema Único de Saúde corre risco elevado. É reflexo do descaso na gestão: nos seis anos mais recentes, os investimentos na área estão congelados. Sem dinheiro suficiente e de políticas adequadas, não houve melhorias nem manutenção de programas relevantes, como o de vacinação.

É nesse cenário que vemos a Covid-19 bater forte novamente em nossa porta. A ameaça vem de todos os lados. Na China, são centenas de milhões de novos casos. Os óbitos também explodiram desde que o governo acabou com lockdowns obrigatórios e um rigoroso programa de testes, em razão de uma série de protestos da população. Fato é que, atualmente, o planeta nem sabe ao certo o que ocorre por lá.

Em consequência, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já manifestou sinal de alerta. Em 4 de janeiro, divulgou em comunicado que a China estava subnotificando o verdadeiro impacto da Covid no país —em particular, as mortes.

Com o mundo apreensivo, vemos por aqui, em nosso Brasil, casos e óbitos saírem da linha de segurança. Daqui a alguns dias, atingiremos a vergonhosa marca de 700 mil mortes.

A tragédia pode piorar: a variante XBB.1.5 do coronavírus, batizada de Kraken, foi detectada pela primeira vez no país também do dia 4 de janeiro. Informa a OMS que é uma subvariante derivada da Ômicron, aliás, a versão mais transmissível da Covid-19 identificada até o momento.

As notícias preocupantes vão além. O Ministério da Saúde, agora sob nova administração, constatou desabastecimento de vacinas pediátricas. Em sistema de emergência, o Ministério negocia com laboratórios o adiantamento de entrega de doses para atender o público de 6 meses a 11 anos – nossos filhos e netos.

700 mil mortes e sem vacina. Resta-nos pressionar a classe política para garantir acesso universal à imunização, assim como, individualmente, ter consciência cívica e cumprir o calendário de imunização.

Outras medidas essenciais são evitar aglomerações e espaços fechados com grande fluxo de pessoas; caso não seja possível, usar máscara. Os hábitos de higiene devem ser mantidos, como lavar as mãos frequentemente e usar álcool em gel.

Vamos em frente. Feliz 2023 a todos.


*Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.

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