Como resolver o gargalo da enfermagem sem risco jurídico
Por João Hugo Silva
O debate sobre a falta de profissionais de enfermagem no Brasil costuma girar em torno de dois extremos: a urgência das instituições em cobrir escalas e garantir a segurança assistencial e o receio de gestores diante de riscos jurídicos e trabalhistas que cercam o setor. Esse dilema não precisa existir, é possível inovar, ampliar acesso à força de trabalho e, ao mesmo tempo, operar dentro de um modelo absolutamente seguro em termos legais e regulatórios.
A Demografia da Enfermagem no Brasil 2025, estudo do Ministério da Saúde, divulgou um aumento de quase 44% dos postos de trabalho em cinco anos no setor. Em 2022, o número de vínculos ficou em cerca de 1,5 milhão. Lembrando que esse dado não reflete o número de pessoas atuando na enfermagem, já que um único profissional pode estar associado a mais de um contrato.
Mesmo com esse número, o Brasil ainda enfrenta déficit de profissionais, sobretudo em plantões críticos. Hospitais e clínicas têm dificuldade em ajustar suas equipes e isso gera sobrecarga, queda na qualidade assistencial e aumento de custos. Ao mesmo tempo, muitos profissionais qualificados enfrentam barreiras para acessar oportunidades compatíveis com sua rotina e disponibilidade.
A solução desse gargalo passa, necessariamente, por três frentes: flexibilidade, tecnologia e compliance. Qualquer iniciativa que ignore um desses pilares tende a gerar problemas que podem ir desde buracos na escala até insegurança jurídica.
O primeiro ponto é compreender que a saúde não pode mais operar apenas com modelos rígidos de contratação. Quando uma instituição precisa de cobertura imediata, ela não pode esperar semanas por uma admissão tradicional. É aí que a tecnologia se torna uma aliada poderosa. Plataformas especializadas conseguem conectar, em minutos, profissionais qualificados a unidades que precisam deles.
No Brasil, a enfermagem é uma profissão regulamentada e altamente crítica. Por isso, qualquer solução inovadora precisa ser construída junto ao marco regulatório, e não à margem dele. É possível, sim, oferecer flexibilidade aos profissionais e às instituições sem precarizar vínculos, sem driblar a legislação e sem expor gestores a passivos trabalhistas.
Esse equilíbrio exige estrutura, processos sólidos, modelos contratuais adequados, validação documental rigorosa, integração com conselhos profissionais, mecanismos de auditoria e governança.
Quando tecnologia e compliance caminham juntos, criamos um ambiente em que profissionais trabalham de forma mais sustentável, hospitais operam com segurança e o paciente recebe cuidados de alta qualidade.
A única condição é que inovação não seja tratada como um atalho e sim como uma estrutura de responsabilidade. O Brasil não precisa escolher entre segurança jurídica e inovação, o avanço real do setor acontece quando essas duas frentes caminham juntas.
*João Hugo Silva é CEO da Clicknurse.
