Cobertura de mulheres que fazem mamografia está muito abaixo do recomendado
A celebração do “Outubro Rosa” desempenha um papel fundamental no reforço da importância do diagnóstico precoce do câncer de mama, que pode ser feito através das mamografias de rastreio — quando paciente realiza o exame sem apresentar sintomas – e investigação de algum sinal ou sintoma da doença em pacientes abaixo de 40 anos, de acordo com as recomendações da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Para o Sistema Único de Saúde (SUS), a recomendação de realização dos exames de rastreio é para mulheres com idades entre 50 a 69 anos sem sinais e sintomas de câncer de mama. “A diferença de idade preconizada para os exames de rastreio entre o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Mastologia é um fator que deixa descoberta parte da população. As mulheres com idades entre 40-49 anos são responsáveis por cerca de 15-20% dos casos de câncer de mama”, explica Marina Sahade, do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.
Alerta muito importante, principalmente por que se estima uma média de 66 mil novos casos no Brasil por ano em 2022, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), sendo que 60% desses casos serão diagnosticados em estágio avançado, aponta a SBM. “Câncer de mama é a doença que mais mata mulheres no país, com taxas mais altas no Sul e Sudeste. A rapidez do diagnóstico possibilita diferentes frentes de tratamento, além de aumentar as chances de cura”, diz Marina Sahade.
Mesmo com a idade inicial para início das mamografias de rastreio aquém daquela indicada pelas sociedades médicas, menos de 10% das mulheres que se tratam no SUS estão sendo cobertas pelas mamografias. Seguem os dados: o governo preconiza a realização deste exame para mulheres de 50 a 69 anos sem sinais e sintomas de câncer de mama. Em 2021, de acordo com Inca, foram realizadas em todo o Brasil 3.145.930 mamografias de rastreamento. Considerando os dados do IBGE para 2021, as mulheres com idades entre 50 e 69 anos representaram 16.3% da população. Considerando uma população geral de 212,7 milhões de brasileiros em 2021, calcula-se, portanto, que apenas 9% das mulheres realizaram a mamografia preventiva para câncer de mama no Brasil ano passado.
A cobertura de mamografias no Brasil ainda está muito abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Segundo levantamento da SBM, em 2021, a cobertura média foi de 20%. O número de mulheres que realizaram o exame pelo SUS em 2021 foi de 1,6 milhão, representando 15% a menos que o número registrado no período pré-pandemia. Em 2020, primeiro ano da pandemia, foi registrada uma queda de 40%.
Segundo a SBM, um dos motivos para a baixa adesão à mamografia pode ser a má distribuição da cobertura de exames no país. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a incidência do câncer de mama na região Sudeste é o dobro da identificada no Nordeste, por exemplo, com 36 mil casos contra 13 mil.
Segundo o Ministério da Saúde, existem cerca de 4,2 mil mamógrafos disponíveis para uso no SUS, um número considerado suficiente para as dimensões do país. A SBM, porém, chama a atenção para a má distribuição desses equipamentos, já que a grande maioria está nas grandes cidades, deixando áreas mais afastadas descobertas. “Há hábitos que podem ser adotados como, por exemplo, idas ao médico e exames periódicos, com foco no diagnóstico precoce. Este é o mês de discutirmos e ampliarmos esse conhecimento”, afirma Marina Sahade.