Clima: por que a sustentabilidade também é uma pauta de saúde
Nos últimos anos — e agora, com a COP30 se aproximando —, temos ouvido cada vez mais sobre sustentabilidade. A conferência, que será realizada em Belém do Pará, reunirá líderes globais para discutir as metas climáticas e os compromissos de descarbonização que orientarão as próximas décadas. O tema, antes restrito ao meio ambiente, passou a ocupar um lugar central nas discussões sobre desenvolvimento, inovação e saúde.
Hoje, falar de sustentabilidade é também falar de eficiência e de responsabilidade no uso dos recursos que sustentam o cuidado. O setor de saúde, responsável por cerca de 5% das emissões globais de gases de efeito estufa, é parte essencial dessa discussão. É preciso olhar para dentro, reduzir o impacto das operações e adotar tecnologias mais limpas, digitais e inteligentes. Afinal, sustentabilidade não se limita ao planeta — ela começa em quem cuida das pessoas.
O que isso quer dizer? Se as mudanças climáticas já afetam diretamente doenças respiratórias, cardiovasculares e a qualidade de vida das populações vulneráveis, as instituições de saúde também precisam ser sustentáveis por dentro — mais digitais, mais eficientes e menos dependentes de infraestrutura física e processos manuais. A eficiência energética e a eficiência assistencial tornam-se parte do mesmo propósito: fazer mais com menos, com segurança, rastreabilidade e impacto positivo.
A transformação digital não é somente uma tendência tecnológica; é uma estratégia concreta de mitigação de impacto ambiental. Soluções baseadas em nuvem reduzem a necessidade de data centers locais e diminuem o consumo energético. Modelos paperless eliminam toneladas de impressões e descartes. A automação de processos evita deslocamentos, retrabalhos e desperdício de tempo. Cada uma dessas ações, somada em escala, gera um resultado tangível para o planeta e para as instituições.
Estudos internacionais evidenciam que uma consulta presencial gera, em média, 20 kg de CO₂ equivalente, enquanto uma teleconsulta representa somente 0,04 kg — uma redução de quase 100% nas emissões por atendimento. No Brasil, hospitais que adotaram a telemedicina entre 2020 e 2025 já evitaram mais de 900 toneladas de CO₂, comprovando que eficiência clínica e impacto ambiental caminham lado a lado.
Esse movimento começa a ganhar respaldo institucional. Em 2025, o Ministério da Saúde destinou R$ 561 milhões para projetos de ciência, tecnologia e inovação — mais de cinco vezes o volume médio anual dos anos anteriores. Ao mesmo tempo, entidades do setor, como a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), discutem a inclusão do setor saúde na regulação do mercado de carbono, reforçando o papel estratégico da inovação para reduzir emissões e melhorar a performance operacional.
Eficiência energética também é eficiência em saúde. Reduzir servidores físicos, otimizar infraestrutura e digitalizar fluxos significa consumir menos energia, desperdiçar menos recursos e liberar profissionais para o que realmente importa: cuidar de pessoas. Cada processo automatizado e cada decisão apoiada por dados representam menos impacto ambiental e mais valor social.
Sustentabilidade, nesse contexto, é uma escolha de gestão — não apenas de discurso. É decidir inovar com responsabilidade, transformar rotinas com inteligência e construir uma operação capaz de equilibrar desempenho, segurança e propósito.
A tecnologia que cuida de gente também cuida do planeta. E é nesse ponto de convergência — entre eficiência, inovação e compromisso com o futuro — que a saúde sustentável deixa de ser tendência e se torna uma necessidade concreta para o presente.
*Marcelo Henrique Vicente é coordenador de sucesso do Cliente da Salux Technology.
