O novo papel do cirurgião na era das salas inteligentes
Por Lucas Portela
A sala cirúrgica é um dos ambientes mais críticos e desafiadores da medicina moderna. Em poucos metros quadrados, diferentes tecnologias, sistemas de monitoramento, dispositivos e profissionais qualificados se conectam para garantir que cada intervenção ocorra com segurança, precisão e agilidade. Mais do que executar técnicas cirúrgicas, o cirurgião de hoje precisa atuar em um ambiente dinâmico, onde a tomada de decisão rápida e baseada em dados confiáveis faz a diferença nos desfechos clínicos.
Nos últimos anos, a incorporação de novas tecnologias transformou a rotina cirúrgica. Equipamentos como torres de vídeo, mesas automatizadas, focos cirúrgicos modernos, sistemas de anestesia e monitores multiparamétricos deixaram de funcionar de forma isolada e passaram a operar de maneira integrada. Essa conexão permite que informações vitais — como parâmetros hemodinâmicos, taxas de infusão e imagens em tempo real — sejam compartilhadas entre diferentes sistemas, oferecendo à equipe uma visão completa e atualizada do paciente durante todo o procedimento.
Além disso, esses recursos podem permitir a transmissão simultânea de imagens e dados para outras salas, hospitais ou centros de treinamento, permitindo que cirurgias sejam acompanhadas, analisadas e discutidas por equipes médicas em diferentes localidades. Essa conectividade amplia o acesso ao conhecimento, contribui para a educação médica continuada e viabiliza o suporte remoto em procedimentos de alta complexidade.
A integração entre esses dispositivos não é apenas uma questão de conveniência, mas de segurança e eficiência. Imagine, por exemplo, um procedimento minimamente invasivo em que o cirurgião conta com imagens em tempo real de alta definição, controle preciso de infusão de medicamentos, parâmetros vitais atualizados constantemente e registros digitais que acompanham toda a cirurgia. Quando esses sistemas operam de forma sincronizada, o profissional tem à disposição um ambiente controlado, onde decisões podem ser tomadas com base em informações integradas e confiáveis.
Em emergências intraoperatórias, como uma queda súbita de pressão arterial, sangramento inesperado ou alterações hemodinâmicas, a capacidade de resposta rápida é decisiva. Nesse cenário, a interoperabilidade entre equipamentos, monitores e sistemas permite intervenções ágeis e coordenadas, reduzindo riscos e melhorando desfechos.
Apesar de todo esse avanço tecnológico, é importante lembrar que o protagonismo permanece nas mãos do cirurgião. É o olhar clínico, a experiência e a capacidade de interpretar informações em tempo real que definem as melhores condutas. A tecnologia, nesse contexto, atua como uma ferramenta estratégica aliada, ampliando as possibilidades de cuidado, mas sem substituir o corpo clínico do ato cirúrgico.
Por isso, mais do que acompanhar o avanço das inovações, é essencial que o cirurgião participe ativamente da construção desses novos ambientes de cuidado, ajudando a definir protocolos, validar recursos e contribuir para que as soluções tecnológicas estejam alinhadas às reais necessidades clínicas.
Neste Dia do Cirurgião Geral, que possamos valorizar não só os profissionais que conduzem com maestria cada procedimento, mas também a busca contínua por ambientes cirúrgicos mais integrados, inteligentes e, acima de tudo, centrados no paciente.
*Lucas Portela é Gerente Médico Sênior da Baxter.