Apenas 25% dos pacientes recebem tratamento cirúrgico antes do câncer evoluir
Ontem, dia 4, foi comemorado pelo World Cancer Day/Dia Mundial do Câncer, uma mobilização global liderada pela União Internacional para Controle do Câncer (UICC) que traz para 2024 o tema que, traduzido para o português, convoca a todos para resolver os gargalos do cuidado, criando um futuro sem câncer, sendo que o tempo de ação é agora. Com esse propósito, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) alerta que entre as brechas a serem fechadas uma que se destaca é a da falta de acesso dos brasileiros à cirurgia oncológica segura.
Atualmente, apenas 25% dos pacientes conseguem receber um tratamento cirúrgico adequado e antes de suas doenças neoplásicas evoluírem. Além disso, cerca de 25% das mortes nos últimos anos poderiam ter sido evitadas pela melhoria do acesso à cirurgia. A SBCO ressalta que é urgente resolver os problemas críticos de iniquidade e desigualdade na assistência oncológica. É indiscutível o protagonismo da cirurgia oncológica no tratamento do câncer e ele precisa ser acessível a todos. “A cirurgia oncológica adequada e em tempo é a grande ferramenta de cura na imensa maioria dos casos, devendo ser entendida como um direito fundamental da pessoa com câncer”, afirma o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da SBCO e titular do Hospital de Base, de Brasília.
Os dados apresentados são do estudo Global Cancer Surgery: pragmatic solutions to improve cancer surgery outcomes worldwide, um levantamento multicêntrico, publicado em dezembro de 2023, realizado pelo programa de Comissões da Lancet Oncology, resultante do trabalho conjunto por três anos de mais de 50 líderes globais em cirurgia oncológica – entre eles, cirurgiões oncológicos da SBCO. Neste trabalho, a Comissão sobre Cirurgia Global recomendou para o ano de 2030 uma taxa-alvo de 5 mil procedimentos por 100 mil habitantes para alcançar os resultados desejados na saúde da população. No entanto, conforme o novo relatório publicado, a expectativa é que mais de 70% das pessoas ainda viverão em áreas com capacidade cirúrgica insuficiente em 2035.
Os custos estimados para a expansão da infraestrutura em países de baixa renda chegam a US$ 6 bilhões até 2030. Para cumprir as metas desejadas de infraestrutura até 2030, a expansão exigiria US$ 17 bilhões em todo o planeta. Embora os custos de infraestrutura sejam um investimento inicial substancial, investimentos em infraestrutura durável são relativamente modestos quando esses custos são amortizados ao longo do uso em vida útil.
Cirurgia minimamente invasiva no SUS – A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) tem mantido uma relação estreita com o Ministério da Saúde para que a cirurgia minimamente invasiva para pacientes oncológicos seja incorporada no SUS. A proposta é que sejam incluídos, ao menos, sete tipos de videolaparoscopias em Oncologia. “A boa notícia é que o Ministério tem se mostrado atento em relação à importância desta incorporação e os trabalhos estão em andamento para sua conclusão”, conta Pinheiro.
Com menos dor e menos complicações pós-operatórias, o que, além de propiciar maior conforto aos pacientes, reduz a necessidade de reinternações e procedimentos adicionais, a cirurgia minimamente invasiva possibilita a economia de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, reduz as cicatrizes visíveis. “Além da questão estética, isso também pode impactar positivamente na autoestima e qualidade de vida do paciente”, reforça Pinheiro. Outra vantagem é para o sistema de previdência, já que muitos pacientes poderiam retornar mais precocemente ao trabalho, reduzindo os gastos com tempo de afastamento. O principal método de cirurgia minimamente invasiva é a videolaparoscopia, que é feita com pequenos furos. Por não haver cortes (como ocorre com as cirurgias abertas), os órgãos internos são visualizados por uma câmera.