Neuropsiquiatria: Estudo brasileiro explora células-tronco no tratamento de doenças mentais
Um estudo inovador publicado na Revista Cognitionis (v. 7, n. 1, 2024) está chamando a atenção da comunidade científica por sua abordagem promissora no uso de células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs) para tratar transtornos mentais, como esquizofrenia e transtorno bipolar. Liderado por Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, Pós-Doutor em Neurociências, e com participação de Luiz Felipe Chaves Carvalho, médico ortopedista, cirurgião e neurocientista, que atua como diretor do Departamento de Tratamento com Uso de Células-Tronco do Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH), a pesquisa destaca o potencial revolucionário das iPSCs na criação de modelos celulares personalizados para estudar e tratar doenças neuropsiquiátricas.
O estudo, conduzido em colaboração com os pesquisadores Flávio Henrique dos Santos Nascimento, graduado em Medicina e Psiquiatria, e Velibor Kostic, licenciado em Medicina e Cirurgião Plástico, explora como as iPSCs, derivadas de células somáticas como as da pele, podem ser reprogramadas para se tornarem células neurais.
Esse processo permite simular, em laboratório, as características genéticas de pacientes, oferecendo uma plataforma única para estudar a etiologia de transtornos mentais e testar medicamentos de forma personalizada. “As iPSCs abrem novas possibilidades para entender os mecanismos das doenças mentais em nível celular e molecular, além de possibilitar o desenvolvimento de terapias mais eficazes”, explica Fabiano.
Um dos pontos centrais do estudo é a oligodendrogênese, o processo de formação de oligodendrócitos, células responsáveis pela produção da bainha de mielina que protege os neurônios e acelera a transmissão de impulsos nervosos. Alterações nesse processo estão associadas a transtornos como esquizofrenia, e a pesquisa sugere que as iPSCs podem ajudar a restaurar funções cognitivas e sociais. Além disso, o estudo enfatiza o papel da sinalização de cálcio na regulação da proliferação e diferenciação de células neurais, um aspecto crucial para o tratamento de doenças neuropsiquiátricas.

Luiz Felipe Chaves Carvalho, que lidera o Departamento de Tratamento com Uso de Células-Tronco do CPAH, destaca a importância da pesquisa para a medicina personalizada: “Com as iPSCs, podemos criar modelos que refletem a genética única de cada paciente, permitindo testar tratamentos específicos e reduzir os desafios de generalização encontrados em terapias tradicionais”. Ele também aponta que, apesar dos avanços, desafios como a tumorigenicidade, a rejeição celular e a complexidade da diferenciação celular ainda precisam ser superados antes que as terapias cheguem à prática clínica.
A pesquisa também aborda obstáculos práticos, como a manipulação genética e a padronização de processos de produção e isolamento de células, citando estudos de referência, como Zhang et al. (2020) e Vadodaria et al. (2019). Apesar dessas barreiras, os autores são otimistas, sugerindo que avanços em tecnologias como a optogenética e a terapia secretoma podem revolucionar o campo da neuropsiquiatria.
Publicado na Revista Cognitionis, o estudo representa um marco para a pesquisa biomédica brasileira, reforçando o papel do CPAH como um centro de inovação em neurociências. “Estamos diante de uma nova era na psiquiatria, onde a personalização do tratamento pode transformar vidas”, conclui Luiz Felipe. A expectativa é que, com mais estudos e superações técnicas, as iPSCs possam liderar uma revolução no tratamento de doenças mentais, oferecendo esperança para milhões de pacientes em todo o mundo.