Hemocord cria a primeira linhagem de células iPSCs em grau clínico
O Hemocord – empresa gaúcha de biotecnologia voltada para a produção de produtos de terapia celular e medicina regenerativa – desenvolveu a primeira linhagem de células-tronco pluripotentes induzidas (do inglês induced pluripotent stem cells – IPSCs) de grau clínico no Brasil, o que significa que podem ser utilizadas para desenvolvimento de estudos em seres humanos. De acordo com a médica e cientista Karolyn Sassi Ogliari, pós-doutora em Biologia Regenerativa e Células-Tronco pela Universidade de Harvard, “este estudo mostra o que somos capazes de desenvolver em nossos laboratórios e coloca o Brasil no cenário de terapias inovadoras desenvolvidas em todo o mundo, abrindo caminho para a utilização dessas células na medicina regenerativa e personalizada em humanos aqui no país”.
As células-tronco de pluripotência induzida são células adultas reprogramadas para rejuvenescer e recuperar as propriedades das células-tronco embrionárias. Tem sua origem em uma célula adulta diferenciada, que retorna ao estado de célula embrionária pluripotente com o uso de uma técnica de engenharia genética. “Nós desenvolvemos as iPSCs a partir de células do tecido de cordão umbilical. A partir de então, obtivemos uma plataforma de células do próprio indivíduo com capacidade de se diferenciar em praticamente todos os tecidos de seu organismo para possível uso no futuro”, explica Karolyn. “As principais utilidades das iPSCs são permitir a possibilidade de, a partir de células de um indivíduo com esclerose lateral amiotrófica, por exemplo, criar iPSCs deste paciente e diferenciá-las em neurônios, criando um modelo de estudo da doença em laboratório, possibilitando utilizá-las como uma plataforma para testagem de drogas, avaliando a eficácia e toxicidade paciente-específica, além do grande potencial de utilizar as iPSCs na medicina regenerativa personalizada, criando tecidos do próprio paciente para repor algum tecido lesado, como criar células neurais da retina para degeneração macular”, explica Karolyn.
De acordo com a pesquisadora, as IPSCs apresentam vantagens semelhantes às das células-tronco embrionárias, mas não envolvem o problema ético relacionado com a necessidade de manipular embriões.
Karolyn conta que o Hemocord desenvolveu o projeto por meio do Programa FINEP-TECNOVA/RS 2ª Edição, da FAPERGS. A partir de uma amostra de tecido de cordão umbilical, o Hemocord conseguiu criar 10 linhagens de iPSCs de grau clínico, todas aprovadas nos testes de caracterização, pluripotência e exames genéticos que comprovaram a inexistência de mutações capazes de desenvolver doenças oncológicas. “Todas elas preencheram os critérios de segurança para uso clínico, que hoje são determinadas pela Aliança Global para Terapias com Células-Tronco Pluripotentes (GAiT, na sigla em inglês), uma iniciativa de diferentes organizações mundiais que trabalham para a implementação e a aplicação clínica de terapias com iPSCs em benefício de pacientes de todo o mundo”, explica.
Karolyn ressalta que um dos objetivos do GAiT é desenvolver um banco global de iPSC de grau clínico, certificando a qualidade das células e tornando estas disponíveis mundialmente, para que pesquisadores, indústria farmacêutica e médicos tenham acesso a uma grande variedade genética de iPSCs.
“Nosso trabalho foi recentemente publicado em uma importante revista científica internacional da área, a Stem Cell Translational Medicine. Além disso, nossas linhagens de iPSC já estão em processo de certificação junto ao banco de dados do GAiT, o que coloca o Brasil em destaque para o desenvolvimento de novas terapias através da possibilidade de uso destas linhagens por outros centros de pesquisa mundiais. Atualmente, há pouco mais de 40 estudos com estas células em seres humanos no mundo, concentrados principalmente em quatro áreas: doenças degenerativas oculares, doenças malignas, doenças neurais degenerativas e doenças cardiovasculares. Estamos felizes por contribuir para esta fase tão importante desta tecnologia, que é de migrar dos laboratórios para a aplicabilidade clínica”, celebra.