Cannabis medicinal: conheça os 05 principais desafios do mercado
Por Matheus Patelli
O mercado da cannabis no Brasil possui um enorme potencial de crescimento e pode gerar uma receita significativa para a economia do país. Ainda que o uso da cannabis para fins medicinais seja a principal porta de entrada no mercado, há outros setores que podem ser explorados, como alimentício, engenharia, têxtil, suplementar, cosmético e veterinário. Estima-se que esses setores possam movimentar até R$ 28 bilhões em receita, o que geraria cerca de R$ 8 bilhões em impostos para o governo, segundo dados da Kaya Mind.
O fato é que o nosso país ainda esbarra na regulamentação, legislação, na falta de informações assertivas, além do próprio preconceito do público em geral. Trabalhando no mercado de cannabis legal desde 2019, consigo identificar que o setor tem passado por debates significativos, mas ainda carece de ações efetivas. Abaixo, cinco principais desafios para o cenário atual da cannabis legal:
Regulamentação
No começo do ano, o estado de São Paulo ganhou uma nova lei que autoriza a distribuição gratuita na rede de saúde de produtos à base de cannabis medicinal, mediante prescrição e laudo. Com certeza, essa determinação é um avanço para o setor de cannabis medicinal, principalmente para os pacientes que ainda não conseguem pagar pelo tratamento. Com a evolução da regulamentação e a conscientização crescente sobre os benefícios da cannabis para fins medicinais, espera-se que o mercado se expanda ainda mais significativamente nos próximos anos, pois mesmo com todos os entraves listados aqui, o setor já mantém uma média de crescimento ano contra ano de 100%, desde 2018.
Preconceito
A questão é que a cannabis, pelo menos no último século, esteve relacionada à violência e ao financiamento do narcotráfico. Ainda há uma forte associação do uso de derivados da cannabis com drogas ilícitas no Brasil, o que dificulta sua aceitação pública e a flexibilização do seu uso, atrasando tomadas de decisão de governadores que podem ajudar milhares de pessoas que se beneficiaram desses produtos para tratar sintomas de doenças como ansiedade, dor crônica, epilepsia e outras.
A própria área científica também ocupa uma espaço nesse preconceito, o que acaba atrapalhando os estudos e pesquisas para disseminar conhecimento técnico em relação à cannabis medicinal.
Custos elevados
A importação de produtos à base de cannabis ainda é inacessível para muitas pessoas que precisam, infelizmente, é cara, o que torna os tratamentos inacessíveis para muitas pessoas que precisam. Fato é que, muitas vezes, esse custo é transmitido ao Estado, onerando os cofres públicos. Mas há opções no país que podem ser mais baratas que medicamentos de outras linhas de tratamento. Um exemplo é o CBD da HempMeds, que uma dose de 50mg/dia, durante um mês de tratamento, pode custar ao paciente cerca de R$149,75, o valor mais barato do Brasil. E, com a legislação correta e mais abertura para o mercado, poderemos atingir valores ainda mais acessíveis ao público.
Falta de investimento
Mesmo com um mercado promissor, que pode movimentar cerca de US$ 55 bilhões até 2024 em todo o mundo, de acordo com análise da empresa Prohibition Partners, o setor ainda sofre com incertezas que prejudicam o seu avanço. Como apontei anteriormente, a cannabis pode impactar diversos setores como cosméticos, medicina, têxtil, mas ainda carece de investimentos, desde a pesquisa até o desenvolvimento de outros produtos. Se comparado aos outros grandes players do mercado, como Estados Unidos e Israel, o Brasil está décadas atrasado e se limitando a descobrir novas aplicações.
Escassez de fornecedores
Como é um mercado de incertezas na legislação e com baixos investimentos, é natural que ocorra a escassez de fornecedores no próprio país. Assim, com os desafios inerentes do mercado, muitas empresas fornecem o produto via importação, porém, com todo tipo de qualidade e poucas dezenas trabalhando para disponibilizar os produtos nas drogarias do país. É importantíssimo ter garantia da composição de ativos de um produto para qualquer tratamento de saúde. Além, é claro, de incentivar a produção no país.
*Matheus Patelli é diretor geral da HempMeds Brasil.