Entenda por que produtos de Cannabis não são intercambiáveis nas farmácias
Com o aumento da prescrição de produtos à base de Cannabis no Brasil, muitos profissionais de farmácias têm se deparado com uma dúvida comum no balcão: é possível substituir o produto prescrito por outro de composição semelhante ou aparentemente idêntica? A resposta é: não. Diferente dos medicamentos convencionais, os produtos de Cannabis não são passíveis de intercambialidade, devido às normas da Anvisa e às particularidades farmacológicas dos derivados da planta. Qualquer substituição, mesmo entre produtos com concentrações iguais ou a mesma quantidade de substância ativa, só pode ser realizada com nova prescrição médica. Em caso de descumprimento, por se tratar de uma determinação regulatória, o farmacêutico e a rede podem ser responsabilizados.

Assim como ocorre com medicamentos específicos e fitoterápicos, os produtos de Cannabis não possuem genéricos ou similares. Por isso, a prescrição deve ser individualizada, especificando nome do insumo ativo, fabricante, concentração e posologia.
“As variações entre os produtos de Cannabis são muito amplas. Elas vão desde o processo de extração, que pode preservar ou eliminar compostos importantes como terpenos e flavonoides, até a escolha dos excipientes e a tecnologia de formulação empregada, fatores que influenciam diretamente na biodisponibilidade do composto e afetam a absorção no organismo. Dessa forma, trocar por outro sem orientação médica, ainda que tenham a mesma concentração do principal ativo, pode comprometer o tratamento, gerar reações adversas e até mascarar os resultados clínicos”, explica Pedro Alvarenga, Endocrinologista e Gerente Médico-Científico da Ease Labs, farmacêutica especializada em produtos de Cannabis.
Na prática, isso significa que dois frascos com concentrações parecidas, ou até idênticas, podem ter efeitos distintos no organismo. Mudanças na composição – teor de CBD, presença ou não de THC, excipientes utilizados – e na origem da matéria-prima podem implicar na resposta do paciente e na segurança do tratamento. Como cada organismo responde de forma diferente aos canabinoides, para garantir o sucesso terapêutico, o acompanhamento médico se torna essencial, a fim de observar os resultados, ajustar doses e identificar eventos adversos.
“A não intercambialidade, portanto, não é um obstáculo, mas sim uma medida de segurança. Ela existe para garantir que o paciente receba exatamente aquilo que foi prescrito, permitindo ao médico ter domínio dos passos terapêuticos tomados bem como a evolução do paciente com precisão. É uma segurança não só para os pacientes, mas para os profissionais de saúde, que sabem exatamente o perfil do produto prescrito, com consequente domínio tanto da resposta terapêutica esperada quanto possíveis efeitos adversos, interações medicamentosas e efeitos colaterais”, acrescenta o gerente médico.
Por isso, cabe ao médico detalhar corretamente a prescrição e orientar o paciente sobre a importância de não aceitar substituições sugeridas pela farmácia. Já o farmacêutico, por sua vez, deve verificar todas as informações na receita, dispensar apenas o que foi indicado e, em caso de dúvidas ou indisponibilidade, recomendar que o paciente retorne ao prescritor, sem jamais sugerir produtos alternativos.
“À medida que o uso terapêutico dos produtos de Cannabis avança no Brasil, o entendimento sobre suas especificidades também precisa acompanhar esse movimento. Com responsabilidade, conhecimento e respeito às normas da Anvisa, médicos, farmacêuticos e pacientes podem caminhar juntos para garantir tratamentos mais seguros e eficazes”, finaliza Alvarenga.
