Projeto aponta caminhos para diminuir em até 70% tempo de diagnóstico do câncer de próstata
Um grupo de pesquisadores, com apoio do City Cancer Challenge Foundation, do Instituto de Avaliação de Tecnologia em Saúde (IATS) e do Instituto de Governança e Controle do Câncer (IGCC), conduziu um estudo em parceria com duas instituições gaúchas de referência em radioterapia para câncer de próstata. O Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre tiveram seus processos analisados a fim de entender as barreiras enfrentadas pelo usuário e acelerar a jornada do paciente.
“A partir dos resultados da pesquisa, estima-se uma redução significativa no tempo entre o diagnóstico e o início da radioterapia, período este que pode ser decisivo para o sucesso do tratamento”, explica Rafael José Vargas, chefe do Serviço de Oncologia da Santa Casa, professor da UFCSPA e um dos líderes do projeto.
De acordo com o projeto, o objetivo é reduzir em aproximadamente 70% o tempo de espera para o início do tratamento radioterápico. Entre as soluções apontadas, estão a adoção da navegação oncológica – que auxilia o paciente durante a jornada -, o uso de aplicativos mobile de auto agendamento e informações de autocuidado, a capacitação para profissionais da rede de atenção básica e a disseminação de cartilhas informativas, entre outras ações de baixo custo e fácil escalabilidade na sociedade.
“Esses podem parecer protocolos ou ações simples, mas têm potencial de fazer a diferença e melhorar a vida dos pacientes”, reforça Vargas.
O projeto teve início em 2019, reunindo pesquisadores e as equipes clínicas de cada hospital. Ainda, dezenas de pacientes foram entrevistados e sessões de workshop de design thinking realizadas para a elaboração das estratégias. Neste mês, que marca a conscientização e a prevenção do câncer de próstata, os resultados da pesquisa foram publicados em um periódico internacional de renome na área de políticas e economia da saúde.
“Para nós, é motivo de orgulho o reconhecimento a partir da publicação no Journal of Comparative Effectiveness Research. Mas também sabemos que é apenas o primeiro passo de um projeto que pode ajudar muitos pacientes no sistema de saúde brasileiro. É com isso em mente que continuamos o trabalho”, afirma a pesquisadora do IATS, Ana Paula Etges.
Em breve, o IGCC iniciará um novo projeto em parceria com o Complexo Hospitalar da Santa Casa para colocar em prática as estratégias identificadas no estudo. “Essas soluções fazem parte de um grande trabalho para posicionar Porto Alegre como a cidade de referência na prevenção e no tratamento do câncer. Em pleno novembro azul, é importante que nos debrucemos sobre os processos que envolvem a aceleração do tempo entre o diagnóstico e o tratamento do câncer de próstata”, pondera Daniely Votto, diretora executiva do Instituto.
A ideia é que, após a validação das iniciativas, os processos implementados na Santa Casa possam ser replicados para outras instituições de saúde do país. Dessa forma, servirão de base para gestores de saúde na qualificação dos serviços e contribuirão para aumentar a eficiência do tratamento com a radioterapia.
No Brasil, segundo dados do INCA, foram mais de 65 mil casos por ano entre 2020 e 2022. E, em Porto Alegre, o câncer de próstata foi a neoplasia mais registrada entre homens e a principal causa de morte entre 2015 e 2020, conforme o DATASUS. “Conhecedor desse contexto, o Instituto de Governança e Controle do Câncer incentiva que as instituições da Capital estejam atentas às estratégias apontadas pelo estudo”, defende Daniely.