Icesp identifica fatores que influenciam o câncer de mama em idade mais precoce
Um estudo realizado no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), unidade que integra o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) e está ligada à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, identificou possíveis fatores que influenciam no surgimento do câncer de mama em uma idade mais precoce. Iniciado em 2011, o estudo trata-se de uma dissertação de mestrado da ginecologista obstetra e mastologista Karina Belickas Carreiro, residente no Instituto de 2010 a 2015, e que teve como orientador o chefe do setor de mastologia da divisão de ginecologia do Icesp, Prof. José Roberto Filassi.
O estudo teve como objetivo avaliar fatores conhecidos pela população por influenciar na agressividade do tumor, como a idade da menarca (primeiro ciclo menstrual), amamentação e uso de contraceptivos hormonais.
Foi constatada uma idade média de diagnóstico aos 35 anos em mulheres que amamentaram, e já aquelas que não amamentaram foram diagnosticadas com uma idade média de 33 anos. “Esta conclusão pode ser explicada devido à proliferação celular. As células da mama se diferenciam em até cinco estágios, sendo que a mama só atinge todos os estágios quando a mulher amamenta. Portanto, caso não haja amamentação, não há como chegar ao último estágio, fazendo com que as células estejam mais sujeitas às mutações”, detalha Karina Belickas Carreiro.
Além disso, o trabalho também indicou que uma idade mais precoce da menarca (primeiro ciclo menstrual) estava associada a uma idade mais precoce do diagnóstico de câncer de mama. E assim como, ao contrário de algumas crenças, não foi encontrada nenhuma associação entre o uso de contraceptivos hormonais e a idade em que o câncer de mama foi diagnosticado.
Com base nos dados de 493 pacientes do Icesp, a pesquisa também revelou o que já era de se esperar pelos especialistas: o câncer de mama em mulheres mais jovens é mais agressivo. “Das pacientes do estudo, 68% estavam com o tumor avançado quando diagnosticadas. Este resultado é devido ao fato de que, no Brasil, a recomendação pelo Ministério da Saúde é iniciar o rastreamento mamográfico aos 50 anos de idade e pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) a partir dos 40 anos. O rastreamento tem a função de revelar tumores pequenos antes de serem palpáveis e, portanto, em fase inicial. As mulheres abaixo dessa faixa etária não são incluídas nestes exames de rotina e quando notam as alterações ou são achadas no exame clínico, já se encontram normalmente em estágio mais avançado”, explica o Prof. José Roberto Filassi.
Portanto, na maioria dos casos em mulheres mais jovens, o diagnóstico é realizado com base em sintomas, como nódulos mamários ou secreção mamilar. No estudo, 84,6% das mulheres eram sintomáticas quando foram diagnosticadas. Em comparação com trabalhos internacionais com incidências semelhantes, as pacientes do Icesp apresentaram estágios mais avançados no momento do diagnóstico, sendo apenas 7,51% em estágio inicial.
“Com o resultado do estudo foi possível concluir que, mais importante do que pensarmos em diminuir a idade para o rastreamento, é insistirmos para que os profissionais escutem as queixas dos pacientes e os orientem para não hesitar e procurar o médico caso apareça qualquer sintoma diferente no corpo, pois assim o tumor pode ser detectado precocemente e maiores são as chances de cura”, finaliza Karina Belickas Carreiro.
Câncer de mama
Desde 2008, o Icesp atendeu mais de 15 mil pacientes com câncer de mama e, atualmente, 17,6% dos pacientes ativos do Instituto possuem diagnóstico deste tipo de tumor. Fatores como alimentação saudável e prática regular de atividade física são fundamentais na prevenção do câncer. É importante que as mulheres fiquem atentas aos sinais incomuns que o corpo pode manifestar, como retração da pele, vermelhidão, inchaço com aspecto semelhante à casca de laranja, ferida ou descamação do mamilo e saída de secreção. Visitar o médico anualmente e realizar exames de rotina podem auxiliar na detecção inicial do câncer e de outras doenças.